Editorial Questão de dignidade

Publicado em: 19/03/2019 03:00 Atualizado em: 19/03/2019 10:43

A expectativa é grande em relação ao encaminhamento, ao Congresso, do projeto de reforma do regime de Previdência dos militares. Isso é fundamental para que, enfim, as propostas de mudanças no regime de pensões e aposentadorias possam deslanchar. O país está ansioso para superar essa etapa, fundamental para a retomada do crescimento sustentado e para a geração de empregos e renda. Não é possível que continuemos afundados no pântano da recessão, que ainda se mantém presente, sobretudo na indústria.

Apesar de parte dos militares resistir à reforma, o governo se conscientizou de que todos, sem exceção, devem dar sua cota de sacrifício. Dada a situação das contas públicas, não há como deixar de fora nenhuma categoria. Os tempos de privilégios precisam ficar para trás. O país já gastou demais com benesses a grupos específicos, que, muito bem organizados, sempre souberam defender seus interesses no Parlamento e na Esplanada dos Ministérios. O resultado disso foi um Brasil extremamente desigual. Poucos têm muito, a grande maioria, muito pouco.

A reforma da Previdência que foi proposta pelo governo, por sinal, tem como objetivo principal reduzir as desigualdades entre os trabalhadores. Não é justo que um aposentado pelo Congresso receba aposentadoria média de R$ 26 mil por mês, enquanto os benefíciários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ganhe R$ 1,4 mil. Também é inaceitável que a média de idade de aposentadoria dos servidores públicos seja de 55 anos e, no INSS, mais de 80% dos trabalhadores se retirem do mercado somente aos 60 anos (mulheres) e 65 anos (homens). Essas distorções têm de acabar.

Portanto, nem governo nem Congresso podem ser empecilhos para que a reforma da Previdência seja aprovada o mais rapidamente possível. A sociedade, ao contrário do que prega um pequeno grupo barulhento, está consciente de que os ajustes no sistema previdenciário são importantes e trarão ganhos para todos. Ao retomar o crescimento, o desemprego cairá e a renda dos trabalhadores, que está estagnada, voltará a apontar para cima. Os cidadãos querem chegar ao fim do mês com dinheiro suficiente para honrar seus compromissos em dia. É questão de dignidade.

Sabe-se que alguns pontos da reforma têm criado ruídos, como os Benefícios de Prestação Continuada (BPC), pagos aos mais pobres. Se essa proposta for usada pelos contrários às mudanças na Previdência para embarreirar o andamento das discussões no Congresso, a equipe econômica não deverá pensar duas vezes para retirá-la do meio do caminho. O mais importante é aprovar as medidas que realmente terão impacto fiscal. O país já perdeu tempo demais. Não pode deixar o debate ser dominado pelas questões periféricas. A hora é de pensar grande.

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