Editorial Sinais de confiança

Publicado em: 16/03/2019 03:00 Atualizado em:

Em meio a tantas notícias ruins, chega a ser um alívio ver os investidores — em especial, os estrangeiros — darem um voto de confiança ao país. Eles não economizaram nas propostas para a compra dos três lotes com 12 aeroportos no Centro-Oeste, no Nordeste e no Sudeste ofertados pelo governo. Houve casos em que o ágio sobre o valor mínimo fixado no edital de privatização passou de 4.700%. Os compradores estão certos de que o valor que pagaram pelos terminais será recuperado ao longo dos anos, devido ao grande potencial de crescimento do número de viajantes.
É preciso reconhecer que o modelo de venda escolhido pelo governo — tudo foi desenhado ainda na gestão de Michel Temer — funcionou perfeitamente. Em bloco, os investidores levaram aeroportos rentáveis e outros nem tanto. Assim, conseguem, na média, tornar tudo um bom negócio. A expectativa é de que mais 42 terminais aeroportuários sejam privatizados ainda em 2019. Isso inclui as joias da coroa, Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Se conseguir vender todos esses ativos, o Tesouro Nacional poderá encerrar as atividades da Infraero, estatal que se mostrou ineficiente e sempre foi usada como cabide de empregos para políticos.
Não há outro caminho para o governo no sentido de melhorar a infraestrutura do país que não seja transferi-la para a iniciativa privada. Com o Orçamento engessado, deficits consecutivos e ineficiência, a União vem destinando, em média, 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) anualmente para investimentos em infraestrutura. Os recursos não são suficientes sequer para a manutenção do que já existe. Não por acaso, muitos aeroportos estão mais para rodoviárias do interior e, esburacadas, as estradas se tornaram um passaporte para a morte. No caso das ferrovias, pouca coisa é motivo de orgulho.
Sem uma infraestrutura decente, não há como se falar em crescimento sustentado. Os gargalos tiram a competitividade do país, que, se ressalte, já é baixa. Do jeito que a situação está hoje, qualquer avanço mais forte do PIB empurra a inflação para cima. O Brasil, inclusive, só não está convivendo com ameaças de apagão porque a economia continua flertando com a recessão. O ritmo da atividade está fraquíssimo, mas precisa deslanchar. Só assim teremos de volta os empregos que foram destruídos nos últimos anos.
Os investidores que compraram os 12 aeroportos ontem e pagaram quase R$ 2,4 bilhões ao governo se comprometeram a investir R$ 3,5 bilhões nos próximos anos. Se houver o mesmo empenho daqueles que vierem a arrematar os próximos terminais, estradas e ferrovias, um grande volume de recursos será despejado na economia. O governo, por sua vez, poderá destinar as escassas verbas para áreas prioritárias, como saúde, educação e segurança. Esse é o caminho. Quanto mais o governo privatizar, melhor. O Estado brasileiro é inchado demais. Uma máquina enxuta e eficiente tem tudo para entregar o que a população espera: serviços de qualidade.


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