Florença para ser lembrada

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 13/03/2019 03:00 Atualizado em: 13/03/2019 09:10

Poucos dias em Espanha com minhas amigas, ouvindo deslumbradas a batuta do regente Luiz Cobos; em Passo Dobles, Molinos del Vento, Granada, La Cancion del Olvido, escutamos todas nós, com emoção, enquanto percorríamos os caminhos da Itália, cenários de belas paisagens, monumentos seculares, uma curiosidade no centro da cidade um cemitério, chamado “Ilhas dos Mortos”, A Praça da Liberdade, a maior de Florença, com os Arcos do Grão Ducado (1743) dos Médices, que foram os donos de Florença. Tantas coisas para se ver e guardar. A Porta do Paraiso, pelo genial Gilberte, nela esculpiu o seu rosto em bronze coberto em ouro. Batistério com a cúpula em mosaicos bizantinos, com sacadas circundantes onde as mulheres ficavam isoladas nas cerimônias. Não se misturavam aos homens. Dante Alighieri considerava as mulheres sem alma. Ainda hoje as discriminações continuam agressivas, machistas. No Recife, foi criada a Secretaria da Mulher - lei nº 17.855 em 1º/01/2013 sendo administrada pela competente Cida Pedrosa, incansável na sua administração. De cima na janela do Batistério, vimos na rua estacionados alguns carros da Polícia, curiosamente chamados de Misericórdia de Florença.

A Praça de La Senhoria, creio ser a mais bela de Florença, dando destaque às esculturas com o famoso exemplar de David, de Michel Ângelo. O original se encontra exposto na Escola de Belas Artes. Curiosas, entramos na Basílica de Santa Cruz, a 4ª maior do mundo (1294), pertencente a Congregação Franciscana. Num relance, avistamos as tumbas de Giochino Rossini, o celebre autor da ópera Barbeiro de Sevilha e de Maquiavel, o famoso pensador, constando apenas um pequeno epitáfio que não correspondia a grandeza do seu legado. O Mausoléu de Dante Alighieri é simbólico. Ele está enterrado em Ravena, já o de Galileu Galilei chama a atenção pelas esculturas: uma representando a matemática, a outra a astronomia e o busto dele entre elas, carregando o telescópio. Considerado como louco, foi excomungado pela Igreja, preso e torturado, renunciando a sua teoria: do Sol ser o centro do nosso sistema planetário. A cidade de Veneza o recebeu libertando-o. Ficamos cansadas com as infaustas procuras. Com as companheiras de viagem, resolvemos parar. Chega de Tumbas! Vamos passear.

Pelos caminhos que nos levariam a Paris, a paisagem não era a mesma. Os verdes desbotados anunciavam o outono, estação do encantamento. Do Champs Elysées, ouvimos os sinos que chamavam da Madeleine, bela construção greco-romano, na Praça de La Concorde. Foi imediata a lembrança do sino da Igreja São José do Recife, onde fui batizada, cuja sonoridade ganha distâncias. É o maior sino do Recife, pesa 24 toneladas. Associo à Cotovia in Opus 10 de Manuel Bandeira, em sonoridade do sino de São José. No meu longo caminhar, um tempo de agitação que atiça à memória para as coisas que aconteceram. Fazendo da memória vida, Machado de Assis definiu como ninguém esses sentimentos.

Realizamos com emoção nossa visita à gruta de Nossa Senhora de Lourdes, o principal motivo da nossa viagem. Diante da Gruta, tantas peregrinações vindas da Europa e de outros Continentes e países, incluindo o Brasil. Com humildade, e confiança, diante da imagem de Nossa Senhora de Lourdes, fiz com devoção o meu pedido de cura para os cânceres, do intestino e mama direita. Volto ao Recife, muito mais fortalecida de fé e confiança, na imperscrutável certeza do sobrenatural.

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