O Galo da Madrugada e o transplante de fígado

Cláudio Lacerda
Cirurgião. Presidente da APAF

Publicado em: 12/03/2019 03:00 Atualizado em: 12/03/2019 09:02

Aparentemente, Galo da Madrugada e transplante de fígado não têm nada a ver. Mas têm. E como! Senão vejamos. De um lado, o maior bloco carnavalesco do mundo, orgulho de Pernambuco, que promove alegria para centenas de milhares de nativos e turistas, acolhendo-os e divulgando o que o estado tem de melhor e de mais original e grandioso da sua cultura.

Do outro, a Associação Pernambucana de Apoio aos Doentes de Fígado - APAF, cuja missão precípua é acolher, hospedar e apoiar brasileiros carentes, que chegam ao Recife em situação clínica dramática, emocionalmente fragilizados e empobrecidos (no tanto em que a doença os incapacita para o trabalho e leva ao aumento dos seus gastos). Aqui, precisam entrar na lista dos candidatos ao transplante e aguardar sua vez, sem data definida ou sequer previsível. Em suma, precisam de apoio material e emocional para lutar contra o tempo, sem terem com que se manter.

A APAF, que dá suporte aos pacientes da Unidade de Transplante de Fígado de Pernambuco – UTF, cuja equipe já realizou mais de 1300 transplantes, sendo por isso também, porque não dizer, um dos orgulhos do Estado – desta vez não acolheu. Foi acolhida. Afinal, como diz seu lema, “uns precisam de ajuda, outros de ajudar”.

Foi assim que, na sua proposta de parceria, visando a uma ajuda do Galo nas campanhas de doação de órgãos, de divulgação do seu trabalho e de obtenção de apoio financeiro, a APAF recebeu comovente e entusiasta acolhida dessa agremiação carnavalesca. A começar pelo seu presidente, Rômulo Menezes, que recepcionou a Associação de braços abertos, antecipando um generoso cheque, como parte do valor da venda de camisas para o carnaval deste ano. Durante o desfile, vários artistas militantes da causa, como Ed Carlos, Ravel e Nena Queiroga, foram aplaudidos delirantemente pela multidão quando enalteceram a missão da APAF, bem como a grandeza do gesto da doação de órgãos.

Quando celebrou a parceria, o presidente Rômulo Meneses enfatizou os pontos de identidade entre as duas instituições, o alcance social e a beleza do trabalho da APAF, bem como a necessidade que tinha o Galo de engajar-se nessa causa. Bem humorado, finalizou, provocando risos da imprensa e da plateia, ao dizer que “agora, já não há mais motivos para sentir-se culpado pelo consumo alcoólico dos foliões, às vezes meio exagerado”.

Longa vida para o Galo! Longa vida para a APAF! Longa vida para esta parceria do bem!

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