Por que não vou falar de flores

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/03/2019 03:00 Atualizado em: 09/03/2019 20:24

Apesar dessa semana ter sido mais do que especial pelo Dia Internacional da Mulher, carnaval e data magna de Pernambuco, as notícias econômicas não foram boas. O Banco Central Europeu e a OCDE reduziram as previsões de crescimento do PIB na Zona do Euro para 1,1% e 1,0%, respectivamente. No Brasil, as expectativas de mercado para o crescimento do PIB brasileiro seguem caindo a cada dia. No final de janeiro as previsões eram de crescimento de 2,5%. Hoje já devem estar abaixo de 2,3%. A OCDE apresentou previsões na quarta-feira de 1,9% para o Brasil.

Além dessas quedas em previsões de desempenho econômico, o nosso presidente resolveu se envolver em duas trapalhadas, uma com um vídeo sem sentido e a outra alegando que só há democracia quando as Forças Armadas querem. Essas exposições de nosso governante maior obviamente já levaram os mercados, tanto no Brasil como no exterior, a questionar se essa postura presidencial e dos seus filhos trapalhões não reduzirão o poder de articulação para aprovar as reformas necessárias. Volta a desconfiança de que a frase do embaixador Alves de Souza Filho, frequentemente atribuída de forma equivocada a Charles de Gaulle, é correta: “O Brasil não é um país sério.” Por tais incertezas, já começa a haver uma redução nos fluxos de investimentos voluntários para o Brasil.

Em nosso estado, apesar do sucesso do carnaval, a dificuldade econômica continua grande. Os atrasos dos pagamentos do governo do estado e de várias prefeituras locais têm levado a um efeito cascata entre empresas privadas. Cada vez mais há atrasos nos pagamentos. Isso reduz a capacidade de investimentos das empresas locais e a produtividade da economia. Por isso, as reduções nas expectativas de crescimento para 2019 ocorrem. Além do efeito perverso das quedas de expectativas de crescimento para o PIB nacional, há ainda problemas locais intrínsecos, tendo essa postura do governo do estado como origem, que também geram pessimismo para as empresas locais.

Diante de tal situação, a aprovação da reforma da Previdência, nas comissões e perspectivas de sua aprovação no Congresso, será um passo importante. O presidente da República tem de fato sido o maior “oposicionista” dessa reforma, quando fica passando a noção de exagero de algumas de suas regras. Mas a verdade é que ela é necessária para assegurar a estabilidade e a perspectiva de equilíbrio fiscal. Só assim o país poderá voltar a crescer com força. Tirar os filhos trapalhões de cena também é uma estratégia bastante necessária, pois numa publicação que fazem nas redes sociais, ou declaração à imprensa, eles têm feito desaparecer da economia brasileira mais riqueza do que a corrupção desnudada pela Lava-Jato retirou dos cofres públicos ao longo de mais de uma década. Os meninos até agora têm sido muito bons em empobrecer o Brasil.

Em Pernambuco precisamos criatividade para injetar mais liquidez na economia. O governo não pode ser o elemento propulsor da crise como está acontecendo. Há soluções possíveis. Várias foram apresentadas aqui ao longo do ano passado. Mas o governo do estado tem optado por rezar por uma solução divina, ao invés de agir para reduzir o estrago que causa. Desconfio fortemente que falta de reza não é o problema, pois as igrejas pernambucanas estão sempre lotadas.  Também acho que o aumento das preces não vá resolver o problema, pois eles têm origens mundanas. Um pouco de humildade e busca de sugestões a profissionais mais qualificados não seria uma má estratégia a ser adotada pelo governo atual.

Então, por enquanto, as únicas flores de hoje ficam na homenagem às mulheres pelo dia que caracteriza a luta delas pela igualdade, sendo essa uma das evoluções mais importante na história recente da humanidade e algo que temos que continuar a perseguir com muito vigor, pois a estrada a ser percorrida ainda é longa.

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