O PIB brasileiro em 2018

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/03/2019 03:00 Atualizado em: 02/03/2019 08:52

Os dados para o PIB em 2018 mostram que a economia cresceu pouco nesse último ano, apenas 1,1% em relação ao ano anterior. Bem menos do que os mais de 2,6% a 2,8% que no início do ano passado muitos projetavam. Obviamente, naquele momento ainda não havia a certeza de que a reforma da Previdência não ocorreria (a intervenção no Rio de Janeiro ainda não havia sido decretada) e nem que haveria ainda maior desmoralização do governo Temer, o que seguiu a greve dos caminhoneiros. Isso prejudicou muito as perspectivas da economia brasileira no ano passado, levando a esse fraco desempenho verificado. Esse ano começamos com boas projeções também, cerca de 2,6% em 2019, mas já caíram para 2,48%, dadas as crises frequentes do governo e perspectivas de dificuldades para a aprovação da reforma da Previdência.

Os dados do PIB no ano passado, contudo, mostram também que houve uma reestruturação importante na economia brasileira. O crescimento adveio principalmente dos investimentos e das exportações, ambos tendo crescido 4,1% em relação ao ano anterior. Além disso, as importações também cresceram bem, atingindo 8,5% em relação a 2017. Isso também decorre da reestruturação, tanto pela importação de bens de capital como de insumos necessários a novos processos produtivos já instalados e ainda não totalmente integrados com o resto da economia brasileira. Ou seja, apesar do baixo desempenho econômico, não se pode considerar 2018 um ano perdido. Ao contrário. Foi um ano de ajustes para que a economia possa estar melhor estruturada para uma nova fase de crescimento, sem necessariamente depender tanto de governo.

Vale observar também que o PIB sem o consumo do governo (PIB que realmente gera bem-estar para a população) cresceu 1,44% em relação a 2017. Apesar de ter desempenho melhor do que o PIB total, ainda assim essa estatística teve arrefecimento em relação ao seu valor em 2017, que foi de 1,56%. Ou seja, o bem-estar da população aumentou um pouco mais do que os dados de PIB total indicam, mas ainda assim não prosperou da forma esperada em uma retomada econômica menos dependente do setor público. As projeções para 2019 são de que essa estatística também deve crescer bem mais do que em 2018.

Vale observar também, que desde 2013, somente em 2017 e 2018, o PIB sem consumo do governo cresceu mais do que o PIB total. Isso significa que a economia finalmente está se libertando dos governos para crescer. Por dois anos consecutivos, ela não tem mais sido puxada pelo governo como teve que ser desde o início da crise. Essa maior independência dos governos é essencial, dada a situação fiscal catastrófica em que se encontram todos os governos no Brasil, federal, estaduais e municipais. Ou seja, o fraco desempenho da economia em 2018 não revelou totalmente uma nova realidade que começa a se estruturar na economia brasileira e que pode torná-la mais saudável para crescimentos futuros. A menor dependência dos governos e a introdução de novas tecnologias de produção e de processo são essenciais para uma retomada econômica mais sustentável nos próximos anos.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.