Editorial Venezuela em transe

Publicado em: 25/02/2019 03:00 Atualizado em: 25/02/2019 08:42

Age bem o governo brasileiro na delicada crise da Venezuela. Em momento algum optou pelo confronto. Ao contrário. Em obediência ao artigo 4º da Constituição, que estabelece como o Brasil deve se comportar internacionalmente, segue os ditames de autodeterminação dos povos, não intervenção, defesa da paz e solução pacífica de conflitos.

Em hipótese alguma, segundo o porta-voz Otávio Rêgo Barros, brasileiros porão os pés do lado de lá. Espera-se que prevaleça o bom senso e que se encontre forma negociada de fazer chegar o socorro ao povo castigado por privações crescentes.

Nicolás Maduro afirma que não se trata de ajuda humanitária, mas “cavalo de Troia” cujo objetivo é apeá-lo do poder. Não deixa de ter razão. A situação permite duas leituras. De um lado, venezuelanos passam necessidade, estão desnutridos e muitos morrem por falta de remédios. O quadro dramático machuca as consciências civilizadas do mundo e mobiliza respostas.

De outro lado, o movimento tem forte viés político. Daí por que organizações humanitárias como a Cruz Vermelha, as agências da ONU dedicadas ao tema e especialistas em direito humanitário estão fora do processo — que contraria os princípios de neutralidade, independência e imparcialidade do direito humanitário internacional.

É difícil prever o que acontecerá. A torcida da oposição é que a crise se acentue de tal forma que os militares abandonem em massa o presidente e o obriguem a renunciar ao Palácio de Miraflores. Se tal cenário não se concretizar, o conflito tende a se agravar, com consequências trágicas. O pior pode piorar.

O Brasil tem especial interesse no conflito, que vai além da simples proximidade territorial. Roraima importa combustível e fertilizante do país vizinho. A interrupção do fluxo comercial comprometerá a próxima safra do estado. Não só. Roraima é a única unidade da Federação não interligada ao sistema nacional de energia. Depende da transmissão de energia elétrica produzida na hidrelétrica venezuelana de Guri. Sem ela, a alternativa é o racionamento.

Brasília, frisou o general Augusto Heleno, não vai fazer nenhuma ação agressiva contra Caracas. A decisão é acertada. Mas não significa cruzar os braços. O Itamaraty pode voltar à tradição e negociar uma saída honrosa para Maduro, como sugeriu o vice-presidente da República. É hora da diplomacia, que sempre encontra palavras para promover o diálogo.

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