A democracia e Ricardo Boechat
Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.
Publicado em: 14/02/2019 03:00 Atualizado em: 14/02/2019 08:55
A democracia vive na opinião pública. E a opinião pública se certifica na imprensa. Sem liberdade de imprensa não há regime democrático.
A luta da imprensa para ter vez e voz vem do início do século 20. A Revolução Industrial provocou a urbanização. E as guerras mundiais acentuaram o temor social e a desconfiança política.
A partir daí, o embate teórico, às vezes com tintas ideológicas, se intensificou. Envolveram-se nas disputas democratas, socialistas, internacionalistas, niilistas, nazistas, comunistas, fascistas, anarquistas.
Por sua vez, estudiosos produziram interpretações e agregaram análises sobre a realidade emergente. Entre eles, Ortega y Gasset, com Rebelião das Massas, e Elias Canetti, com Massa e Poder.
Na seara propriamente jornalística, surgiu, em 1922, um clássico: Opinião Pública. Escrito por Walter Lippman (1889/ 1974). Ele foi jornalista, comentarista político, filósofo. Estudou em Harvard. Foi editor da New Republic. Publicou seis livros. Era considerado um dos mais respeitados profissionais na sua área.
Para ele, a burocratização e a impessoalidade na nova sociedade industrial impediam que o indivíduo tivesse consciência plena do cenário político. Prevalecia o jogo de imagens, criado pelo noticiário, impresso em nossos mapas mentais. São essas imagens que geram afetos e rancores na opinião pública.
Segundo Lippman, opinião pública é uma ilusão. Não devemos confundir notícia com verdade. Cabe à verdade iluminar os fatos ocultos. Relacionando-os com outros fatos. Produzindo um extrato da realidade. Que estimule as pessoas a agirem.
Participou de grande debate com o educador John Dewey. A esperança de Dewey era a de que a imprensa passasse a desempenhar papel pedagógico na consolidação da democracia. Lippman não chegou a tanto. Era mais cético. De qualquer modo, a discussão entre os dois valorizou a imprensa como instância de formação de uma vontade social.
O que Ricardo Boechat tem a ver com Walter Lippman ?
Tudo. Ambos eram jornalistas, escreviam, dirigiram veículos de comunicação e acreditavam no que faziam. Tinham algumas diferenças: Boechat tinha mais fé do que Lippman no poder da imprensa. Lippman mantinha uma postura mais filosófica do que Boechat. Boechat foi tricampeão: premiado em jornal rádio e televisão. Lippman era exclusivamente gutemberguiano.
Mas, há um fato que se insere nas dobras do tempo. Existia na época de Lippman. E está presente na era Boechat: o radicalismo. Lippman conviveu com nazismo e fascismo. Boechat lidou com ismos políticos, religiosos e culturais. O ambiente dos anos de 1920 reproduz-se no século XXI.
Assim como antes, Boechat enfrentou as feras do extremismo redivivo. Com coragem homérica. Assim como Lippman, Boechat utilizou o recurso do equilíbrio. Com lucidez proustiana.
Lippman foi um filósofo que apostou na comunicação. Boechat foi um jornalista que fez da comunicação uma filosofia de vida.
A luta da imprensa para ter vez e voz vem do início do século 20. A Revolução Industrial provocou a urbanização. E as guerras mundiais acentuaram o temor social e a desconfiança política.
A partir daí, o embate teórico, às vezes com tintas ideológicas, se intensificou. Envolveram-se nas disputas democratas, socialistas, internacionalistas, niilistas, nazistas, comunistas, fascistas, anarquistas.
Por sua vez, estudiosos produziram interpretações e agregaram análises sobre a realidade emergente. Entre eles, Ortega y Gasset, com Rebelião das Massas, e Elias Canetti, com Massa e Poder.
Na seara propriamente jornalística, surgiu, em 1922, um clássico: Opinião Pública. Escrito por Walter Lippman (1889/ 1974). Ele foi jornalista, comentarista político, filósofo. Estudou em Harvard. Foi editor da New Republic. Publicou seis livros. Era considerado um dos mais respeitados profissionais na sua área.
Para ele, a burocratização e a impessoalidade na nova sociedade industrial impediam que o indivíduo tivesse consciência plena do cenário político. Prevalecia o jogo de imagens, criado pelo noticiário, impresso em nossos mapas mentais. São essas imagens que geram afetos e rancores na opinião pública.
Segundo Lippman, opinião pública é uma ilusão. Não devemos confundir notícia com verdade. Cabe à verdade iluminar os fatos ocultos. Relacionando-os com outros fatos. Produzindo um extrato da realidade. Que estimule as pessoas a agirem.
Participou de grande debate com o educador John Dewey. A esperança de Dewey era a de que a imprensa passasse a desempenhar papel pedagógico na consolidação da democracia. Lippman não chegou a tanto. Era mais cético. De qualquer modo, a discussão entre os dois valorizou a imprensa como instância de formação de uma vontade social.
O que Ricardo Boechat tem a ver com Walter Lippman ?
Tudo. Ambos eram jornalistas, escreviam, dirigiram veículos de comunicação e acreditavam no que faziam. Tinham algumas diferenças: Boechat tinha mais fé do que Lippman no poder da imprensa. Lippman mantinha uma postura mais filosófica do que Boechat. Boechat foi tricampeão: premiado em jornal rádio e televisão. Lippman era exclusivamente gutemberguiano.
Mas, há um fato que se insere nas dobras do tempo. Existia na época de Lippman. E está presente na era Boechat: o radicalismo. Lippman conviveu com nazismo e fascismo. Boechat lidou com ismos políticos, religiosos e culturais. O ambiente dos anos de 1920 reproduz-se no século XXI.
Assim como antes, Boechat enfrentou as feras do extremismo redivivo. Com coragem homérica. Assim como Lippman, Boechat utilizou o recurso do equilíbrio. Com lucidez proustiana.
Lippman foi um filósofo que apostou na comunicação. Boechat foi um jornalista que fez da comunicação uma filosofia de vida.