O lugar de cada qual

Plutarco Almeida
Jornalista e sacerdote jesuíta

Publicado em: 13/02/2019 03:00 Atualizado em: 13/02/2019 08:59

Autoestima está na moda. Uma das literaturas mais vendidas atualmente é a chamada literatura de “autoajuda”. Gurus e “conselheiros” de todo tipo proliferam nas estantes das livrarias e sobretudo nas redes sociais dando orientações e até receitas infalíveis para quem já perdeu a sua autoestima ou nunca chegou a tê-la. Muita gente procura saber como recuperar ou conquistar a confiança em si mesmo para poder superar os obstáculos que vão surgindo no diário transcorrer da vida. E parece que o principal deles, consciente ou inconscientemente, é posto por cada qual. É a vida, afinal, e “viver não é brincadeira não”, como canta o grande sambista Paulinho da Viola.

Não sou psicólogo, muito menos guru de ninguém, mas desconfio que se alguém não sabe qual é o seu lugar no mundo, andará por aí feito cão sem dono, perambulando pelas ruas e becos de suas próprias ilusões e desilusões que são tantas. Sem a força da confiança naquilo que se é de verdade, tudo perde seu sentido, cor e sabor. E todo mundo é alguém! Ser alguém significa ter uma história para contar, história de emoções, vitórias e fracassos, história alegre ou triste, não importa, é a minha história, e daí? Porém, é claro que se esta confiança for exagerada, os obstáculos se tornarão muito maiores e até impossíveis de serem vencidos. Quem acha, ou “se acha” melhor do que os outros, vai sofrer do mesmo jeito. Toda vaidade é burra porque não tem futuro algum. Ninguém é mais do que ninguém, apenas é o que é e pronto!

Já dizia o velho Aristóteles: “A virtude está no meio”. Nessa mesma linha de raciocínio é bom lembrar o ditado popular: “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra! ”. E Caetano Veloso, em uma de suas filosóficas canções, chama a atenção para o fato de que “cada qual sabe a dor e a delícia de ser o que é”. A vida não é feita apenas de momentos dolorosos porque o doce também está presente, ainda que em pequenas doses. Autoestima, então, tem a ver com essa capacidade humana de compreender e principalmente aceitar o que somos de verdade, evitando ao máximo alimentar ilusões de querer aparentar aquilo que nós gostaríamos de ser, mas não somos. Nem vaidades extremas, nem tampouco humildades negativistas. Ambas são como máscaras que podem até ser bonitas, mas não passam de mascaras, e duram menos que os dias alegres do carnaval. Aprender a gostar de si mesmo, encarando a verdade nua e crua que o espelho da consciência quer mostrar, é tarefa para toda vida, o desafio que ela nos impõe. Pode ser difícil e penoso, mas se não aceitarmos este desafio nunca chegaremos a ser quem de fato somos. E o pior, nunca seremos realmente felizes.

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