Origem, de Dan Brown

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Publicado em: 04/02/2019 03:00 Atualizado em: 04/02/2019 08:35

Depois do sucesso de O Código da Vinci, O Símbolo Perdido, e Inferno, o escritor americano Dan Brown brinda-nos com seu novo livro Origem. Com os anteriores, conquistou-nos com os interessantes mergulhos na história e no universo dos símbolos. Agora, com sua reflexão sobre o futuro. A partir da especulação sobre duas questões fundamentais. De onde viemos? Para onde vamos? Origem e Destino. Inquietações existenciais que permeiam as reflexões de todas as civilizações. Os personagens - o rei da Espanha, o príncipe herdeiro, a sua noiva, o bispo, o cientista e celebridade futurista, assim como o professor Robert Langdon dos outros romances – todos conduzem o leitor ao debate sobre nossas maiores inquietações filosóficas. Criacionistas e Evolucionistas. Religião e Ciência. Há espaços para ambas? Elas são duas linguagens diferentes tentando contar a mesma história?

Para as religiões, todas, a vida, com todo o seu esplendor e complexidade, só pode ser produto de um arquiteto geral do universo. Que estaria por detrás de tudo o que existe. Especialmente da origem da vida, que até hoje não poderia ser explicada. Para outros, a vida poderia decorrer das leis da física. Que poderiam explicar a sua geração espontânea. No romance de Brown, o futurista Edmond Kirsh reivindica ter chegado a uma explicação científica da geração espontânea. Ele teria identificado dois fatores que, dentre as leis da física, teriam levado a matéria a se converter em vida há bilhões de anos. E, a partir daí, a teoria da evolução de Charles Darwin daria conta do restante do enredo. Fico por aqui nas especulações de Brown para não estragar a leitura de quem se aventurar nesta obra tão instigante.

O romance eleva às alturas o suspense sempre presente nas aventuras de Robert Langdon, o professor de simbologia da Universidade Harvard já conhecido dos livros anteriores. Ao thriller acrescenta o debate sobre ciência e religião. Envereda pela especulação dos impactos da inovação tecnológica sobre nosso modo de viver, pensar e sentir. Especula sobre o novo ser humano – o technum - surgido da interação dos nossos corpos e mentes com os smartphones, supercomputadores e outros produtos da inovação tecnológica. Esses novos seres - os humanos acoplados aos equipamentos tecnológicos - não seriam mais os mesmos seres com os quais nos acostumamos ao longo da história. Estaríamos nos convertendo em algo diferente, uma espécie híbrida causada pela fusão entre biologia e tecnologia. O livro dialoga com o imenso potencial da ciência e da tecnologia para resolver algumas das grandes carências do mundo contemporâneo: fome, degradação ambiental, falta de recursos como água, doenças, e exclusão de milhões de pessoas e até de regiões inteiras do planeta. Trata-se de um romance que tem como pano de fundo as grandes questões filosóficas, religiosas e científicas do nosso tempo. E que nos convida a refletir sobre o impacto da inteligência artificial, que ele prefere chamar de inteligência sintética. A trama nos instiga ainda a pensar sobre a comunicação de massa e seu efeito nas instituições numa era em que todos podem ser ao mesmo tempo autores e audiência. Em escalas de quantidade e tempo antes inimagináveis. 

Ao lastimar os desencontros entre as diferentes religiões, ciências e narrativas, causas de tanta guerra e violência, Dan Brown arrisca uma mensagem de esperança. Imagina um futuro brilhante aberto pelas conquistas tecnológicas se formos capazes de combinar a capacidade humana para a criatividade com o amor. Como ele põe no sonho do principal personagem do livro: ‘um futuro em que a tecnologia torna-se-á tão barata e ubíqua a ponto de eliminar os fossos entre os ‘que têm’ e os que ‘não têm’. Um futuro onde a tecnologia ambiental assegurará o acesso de bilhões de pessoas à água potável, comidas de qualidade, e energia limpa. Um futuro onde doenças como câncer serão erradicadas graças à medicina dos genomas. Um futuro em que o poder da internet vai se mobilizar para a educação, mesmo nas esquinas mais remotas do planeta. Um futuro onde as linhas de produção robóticas libertarão os trabalhadores de trabalhos repetitivos para que eles possam se dedicar a novas atividades nunca antes imaginadas. E, acima de tudo, um futuro em que tecnologias disruptivas começarão a criar uma abundância de recursos que tornarão desnecessárias as guerras pelo acesso a eles’.


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