Censura no MEC

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/02/2019 03:00 Atualizado em: 04/02/2019 08:42

O INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) retirou do ar vários vídeos que supostamente teriam conteúdo de esquerda, como biografias de filósofos como Karl Marx e Antônio Gramsci. Como sempre em movimentos obscuros, a tarja esquerdista sobrou também para Friedrich Nietzsche e Émile Durkheim. O primeiro talvez por não ser ligado a valores religiosos. O segundo por ignorância mesmo, como era típico nas perseguições da época da ditadura militar. Aliás, segundo as instruções do MEC, deveriam também ser banidos conteúdo sobre a ditadura militar, querendo passar uma ideia de normalidade democrática daquela época. Ou seja, começa a perseguição ideológica da forma mais grosseira que se pode imaginar: Tentar viesar o acesso à informação. Vale lembrar que essa apareceu num ministério entregue a um estrangeiro (colombiano) que se autoproclama adversário do que ele chama “Marxismo Cultural.” Ou seja, com essa postura, ele na verdade assume ser um esquizofrênico autodeclarado.

Ricardo Vélez Rodríguez foi indicado pelo jornalista Olavo de Carvalho (que se autoproclama filósofo, mas nunca apresentou em nenhuma de suas poucas obras a profundidade necessária para merecer tal título e nem possui carreira acadêmica que o coloque nem perto disso). Ele tem defendido ideias de extrema direita, que incluem perseguição e censura entre outras atrocidades do gênero. Além disso, não demonstra em sua carreira nenhuma experiência de gestão que justifique sua nomeação ao cargo de ministro. Agora é o líder operacional dessa campanha de perseguição a ideias. Ou seja, um homem que não conhece o Brasil e nossa cultura, com a paranoia de ver esquerdismo em todo canto agora é responsável pelo ensino no Brasil. Estamos diante de uma situação perigosa, que deve ser muito bem fiscalizada pela imprensa para evitar danos maiores a área tão estratégica no país.

É bem reconhecido entre os economistas que a educação é fundamental para o desenvolvimento econômico. Nada afeta tanto o crescimento como a educação. Mesmo na ofensiva institucionalista recente em Economia, reconhece-se que as instituições que determinam a política de educação são as fundamentais para promover o desenvolvimento. Isso significa que entre todas as políticas implementadas pelo setor público, as voltadas para a educação são as mais importantes para determinar o bem-estar de longo prazo da população. Além disso, diversos estudos recentes também mostram que a qualidade da educação é fundamental. Meu livro recente sobre as desigualdades regionais (ainda no prelo), por exemplo, mostra que se corrigirmos para as diferenças de qualidade da educação e de anos de estudo, as desigualdades regionais no Brasil desaparecem. Promover a qualidade da educação é talvez o maior desafio do ensino brasileiro no momento.

A qualidade da educação é dada basicamente pelo seu papel no desenvolvimento da capacidade de raciocínio dos indivíduos e introspecção de uma visão madura do mundo. Além da formação matemática (a lógica humana na sua essência) e de português (traz a lógica na construção da comunicação), também é incentivada na crítica e na compreensão de diversidades de ideias, que podem ser desenvolvidas no ensino de história, ciências sociais, literatura e até mesmo nas ciências naturais. Por conseguinte, censurar textos de autores específicos e com visões que possam discordar do prevalecente na sociedade e no governo é danificar a qualidade de nossa educação. Ou seja, temos agora um ministro da Educação que resolveu combater o desenvolvimento da qualidade da educação no Brasil, sendo sua melhora o maior desafio que temos atualmente na educação e para o desenvolvimento econômico do país.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.