Católico aturdido

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 30/01/2019 03:00 Atualizado em: 30/01/2019 09:09

Ainda não sei se deveria escrever essas aflições. Menos ainda se poderia publicá-las. Afinal são lamentações quanto à Igreja a que quero ser fiel. Mas o “católico aturdido” sou eu mesmo e pode ser que as minhas angústias sejam também de outros. Quando vejo os homens da minha Igreja se metendo em assuntos que não são os seus, e se metendo tão mal...

Essa questão da posse de armas, por exemplo. Nunca tive, não tenho, jamais terei nenhuma arma. Mas posso compreender que muitos queiram ter – pequenos comerciantes cansados de serem assaltados sem que as autoridades públicas façam coisa alguma, proprietários rurais ameaçados de serem invadidos por pretensos “sem terra”, e assim por diante. Evidentemente seria muito melhor se ninguém tivesse armas, mas o fato é que restrições à posse de armas só atingem os cidadãos de bem: os bandidos continuam armados e, mais ainda, sabendo que os cidadãos comuns estão desarmados... A dúvida sobre se a vítima iminente estará armada ou não, não serviria para dissuadir alguns assaltantes? O assunto sem dúvida é sério e tem muitas facetas. Mas o que tem ele a ver com a religião? De que modo a posse ou não-posse de armas decorre dos preceitos propriamente religiosos, mesmo da doutrina social da Igreja? A Igreja não tem nenhuma palavra a dar – e, aliás, nunca deu – sobre posse de armas, nem contra nem a favor. Por que, agora, se metem uns tantos clérigos a falar disso? Será somente a inconformação de esquerdistas derrotados? É preciso muita fé na Igreja para ouvir homilias com esse tipo de verborreia sem levantar e ir embora: é preciso a fé de que não é pelo que na pregação diz o celebrante que a missa vale, mas pelo que, por intermédio dele, o próprio Jesus faz, no altar, com o pão e o vinho.

Diminuição da maioridade penal? Que tem a Igreja e a religião com isso? Virou dogma, agora, maioridade aos 18 anos? Por que não aos 17, aos 19, aos 16? É outro assunto relevante, sim, e também com fortes argumentos  num sentido ou noutro – mas completamente indiferente para a Igreja.

Ao passo que assuntos religiosamente importantes são ignorados por padres e bispos. A comunidade cristã está ou não está sendo bombardeada por uma imensa campanha contra os valores religiosos, contra a moral tradicional, contra a família? E o que fazem muitos clérigos e bispos é o mais sepulcral silêncio – conveniente e conivente... Por que calam? Por que não ousam enfrentar as novelas cada vez mais dissolutas, as grandes redes de televisão, a imprensa, os meios de comunicação poderosos? Falam do que não deveriam falar, omitem-se daquilo em que deveriam ser vigilantes e veementes. E depois reclamam da perda de fiéis. Mas é claro: a comunidade cristã não está sendo atendida no que lhe é mais essencial – a vida sobrenatural. Já perderam muitos fiéis com a equivocada teologia da libertação. E seguem perdendo mais ainda, com essas pregações suspeitas e esses silêncios incompreensíveis.

Ainda bem que comunidades evangélicas têm sido admiráveis na defesa dos valores sagrados, enquanto os católicos, talvez acovardados, talvez cúmplices, se omitem. Nem por isso se haverá de abandonar a Igreja única e verdadeira. Quem quiser seguir a Jesus perseverará nela – apesar de certos clérigos.

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