Editorial Estreia mundial

Publicado em: 23/01/2019 03:00 Atualizado em: 23/01/2019 08:46

Em sua primeira participação em um encontro mundial da importância do Fórum Econômico de Davos, nos Alpes suíços, o presidente da República, Jair Bolsonaro, deu as linhas gerais de seu governo para os principais protagonistas econômicos internacionais e chegou a surpreender quando se referiu à promoção do desenvolvimento econômico em harmonia com a preservação do meio ambiente e a biodiversidade. Isso depois de várias declarações controversas sobre a questão ambiental, como a retirada do país do Acordo de Paris, tratado assinado por mais de 190 nações para a redução de CO2 no planeta. Chegou a afirmar que pretende estar em consonância com o mundo na busca da redução do gás carbônico.

Destacou, na abertura do Fórum — este ano, o encontro não contou com a participação de estrelas, como o americano Donald Trump, o russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping —, que o Brasil vive um momento sem nortear suas escolhas pelo viés ideológico, o que certamente agradou à plateia presente. Disse esperar que o mundo “restabeleça a confiança em nós” e não dispensou críticas ao multilateralismo, como esperado por alguns. Isso porque o titular do Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, já se posicionou a favor da valorização de relações bilaterais entre as nações e contra a globalização.

Pelo contrário, o presidente brasileiro defendeu maior abertura comercial do país — o governo não pode ignorar a necessidade de uma abertura bem planejada para não prejudicar a indústria nacional. Chegou a reconhecer que o Brasil é uma economia “relativamente fechada”, mas que sua administração tem o compromisso de mudar essa condição. Também se mostrou favorável a uma reforma na Organização do Comércio (OMC), para que a entidade volte a ter o protagonismo que tinha no cenário global, como ocorria antes da volta do protecionismo comercial promovido por líderes, como o presidente dos Estados Unidos. Posicionou-se favoravelmente à integração do Brasil ao mundo quando disse que o fará por meio da incorporação das melhores práticas internacionais, como as seguidas e promovidas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Ainda no plano interno, Bolsonaro se comprometeu, mais uma vez, a diminuir a carga tributária, uma das mais intrincadas e maiores do mundo, além de simplificar a burocracia, que cria dificuldades imensas para quem se dispõe a empreender. O setor produtivo ficará grato se realmente ele conseguir “facilitar a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos”, como garantiu aos investidores internacionais.

Antes de seu discurso, em curta sessão de perguntas e respostas com o presidente do Fórum, Klaus Martin Schwab, Bolsonaro abordou o tema corrupção e a indicação de Sérgio Moro para titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Assegurou que Moro foi escolhido para combater a corrupção, lavagem de dinheiro e o crime organizado e que dispõe de todos os meios para tal.

Muitos sentiram falta, em seu discurso, de uma manifestação mais contundente sobre a reforma da Previdência, a mais urgente das reformas — reafirmou apenas que elas serão feitas, como é esperado por todos. O presidente não deu detalhes de como cumprirá o prometido, mas Davos é uma conferência em que os líderes mundiais traçam as linhas gerais de seus governos, principalmente os que acabam de assumir em primeiro mandato. E, a seu modo, Bolsonaro deu o recado à elite global de que o Brasil está aberto ao mundo e espera por novas parcerias em suas relações internacionais.

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