Mostra tua cara

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 22/01/2019 03:00 Atualizado em: 22/01/2019 08:49

Aquilo que a música famosa pedia, “Brasil, mostra tua cara”, estará acontecendo agora, embora num sentido provavelmente diverso do desejado pelo autor. O Brasil está mostrando sua cara: não mais admite conviver com a corrupção; não aceita a impunidade dos grandes; não aguenta mais as mordomias excessivas das elites – do Legislativo, do Judiciário, do Ministério Público; não aceita o comunismo (“a bandeira brasileira jamais será vermelha”); não tolera totalitarismos (e tolera ainda menos o totalitarismo de esquerda do que o de direita); não admite financiar regimes totalitários como o da Venezuela ou de Cuba; respeita a diversidade e as opções alheias mas não admite a pregação sistemática da “desconstrução da heterossexualidade”, para impingir às crianças falsas opções e comportamentos antinaturais; não concorda em que os valores morais, a começar pelos da família, sejam destruídos e minados.  

2018 de fato nasceu nos protestos de 2013 contra a má política, contra os políticos que não representavam o sentimento nacional e só faziam legislar em causa própria. Mas, se assim foi, como então se explicaria 2014, quando o povo votou nos candidatos habituais e até reelegeu a presidente meio maluca? Fácil de explicar: não tendo entendido 2013, os partidos impuseram ao eleitor os candidatos da velha política, e o povo, sem alternativa, teve de escolher o menos ruim. Foi preciso que aparecesse um candidato de fora do sistema – embora já vivesse na política há uns 20 anos, mas sempre meio à margem, afastado das grandes lideranças e dos acordos viciados – candidato que tinha o destemor de proclamar, solitariamente, aquilo que (ninguém percebia então) era o sentimento escondido do Brasil profundo. E por isso, porque soube captar e exprimir a genuína “maioria silenciosa”, ele, quase sem partido, sem tempo de TV, sem fundo partidário, sem coligações, sem a mídia, conseguiu ganhar.  

Desde a eleição de FHC, a política brasileira vem sendo dominada por partidos e programas que não exprimem o sentimento nacional (afinal, PSDB e PT são farinha do mesmo saco) e a eles o povo só se conformava por não ter alternativa, mas resmungava sempre. Direitos somente para os criminosos e bandidos, nunca para as vítimas? Financiamentos (pagos pelos impostos de todos nós) para invasões de terra? Protestos (que podem até ser justos) mas que desrespeitavam os direitos de todos, paralisando a cidade inteira? Defesa somente das minorias (que devem ser protegidas, sim, mas não a ponto de desprezar as maiorias)? Pensamento único nas escolas, impondo a mesma visão (deformada) dos fatos e dos valores?

A eleição de Bolsonaro foi a vitória da “casa grande”, da elite, dos ricos, contra o povão? Pensem assim os que não querem enxergar a realidade e ficam nas suas torres de marfim, acadêmicas e não acadêmicas, devaneando em  torno das próprias ilusões. Ela foi, isto sim, a vitória do brasileiro comum, honesto, pobre, pagador regular de impostos, trabalhador e honrado, inconformado com a canalhice geral da política, e que um dia apostou no PT pensando que ele seria o partido da renovação que pregava, mas depois se decepcionou descobrindo que se tratava (salvo exceções, é claro) de uma quadrilha de ladrões da pior categoria. Esse brasileiro comum passou 24 anos abafado, mas se expressou agora. Este é o Brasil real, que, afinal, está mostrando a sua cara.

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