Editorial Battisti e a Justiça

Publicado em: 15/01/2019 03:00 Atualizado em: 15/01/2019 08:41

Independentemente de toda a conotação política que se está dando à extradição do terrorista Cesare Battisti para a Itália, trata-se de um fato positivo, que merece ser louvado. Foragido há quase 40 anos da Justiça italiana, que o condenou em três instâncias pela participação no assassinato de quatro pessoas, ele deve prestar contas de seus atos como qualquer cidadão que venha a cometer crimes.

Não se pode proteger criminosos sob a bandeira da ideologia, como se tirar a vida de quem quer que seja fosse um ato perdoável porque o objetivo foi político. Não é. Isso vale tanto para os crimes cometidos por grupos de direita quanto os de esquerda. Foi justamente esse pensamento distorcido que permitiu a Battisti ficar impune por tantos anos na França e no Brasil, países em que ele circulou livremente protegido pelo discurso de que era um perseguido político.

Battisti fez parte de um grupo terrorista denominado Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) num período em que a Itália vivia atormentada por grupos extremistas de direita e de esquerda. Os crimes de Battisti foram cometidos em 1979. Preso, ele foi condenado, depois de amplo direito de defesa, mas fugiu da prisão em 1981. O governo italiano nunca perdeu a esperança de capturá-lo. Tanto que tentou, em vários momentos, que ele fosse extraditado.

No Brasil, Battisti viveu sob a proteção de governos petistas. No fim de 2017, finalmente, o então presidente Michel Temer assinou o decreto autorizando a extradição do terrorista, que acabou fugindo para a Bolívia, onde foi capturado. É importante destacar o pragmatismo do governo de Evo Morales. Apesar das posições de esquerda que têm marcado seus mandatos, Morales não titubeou, em nenhum momento, a entregar Battisti para as autoridades italianas.

Isso mostra o quanto o boliviano preza o valor à lei. Sabe, também, que há muitos interesses econômicos em jogo. No caso do Brasil, a Bolívia conta a renovação, no fim deste ano, de um contrato de fornecimento de gás para a Petrobras. São bilhões de dólares envolvidos. Há quem defenda que o negócio seja encerrado, pois a estatal brasileira aumentou consideravelmente a produção do combustível. Morales aposta, contudo, que o presidente Jair Bolsonaro não deixará a Bolívia a ver navios. Sobretudo depois de entregar Battisti, um troféu para o governante brasileiro.

Agora, condenado à prisão perpétua, Battisti pagará pelos crimes que cometeu. Para os familiares daqueles que foram mortos pelo terrorista, fecha-se um ciclo, em que, depois de quase quatro décadas, a justiça será feita. Governos, a despeito de suas ideologias, não podem acobertar criminosos. O Brasil, infelizmente, errou feio ao dar abrigo ao italiano. Que o caso sirva de lição.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.