Editorial Os ganhos da inflação baixa

Publicado em: 12/01/2019 03:00 Atualizado em: 14/01/2019 08:41

Não há sinal mais eloquente de que a política econômica está no caminho certo do que a inflação sob controle. Sobretudo num país com o histórico do Brasil, em que a remarcação desenfreada dos preços atormentou a população por mais de duas décadas. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2018 em 3,75%, ficando, pelo segundo ano consecutivo, abaixo da meta perseguida pelo Banco Central.

Nem mesmo as incertezas provocadas pelas eleições presidenciais estimularam altas preventivas no valor das mercadorias. Em dezembro último, o IPCA subiu apenas 0,15%, o menor resultado para o mês desde 1994, quando o país editou o Plano Real e debelou a hiperinflação. Na avaliação de especialistas, esse foi um sinal importante de que o custo de vida se manterá abaixo da meta em 2019, reduzida pelo governo para 4,25%. As projeções se situam em torno de 4,1%.

É importante, porém, ressaltar que a luta contra a inflação é diária. Não se pode descuidar dela um minuto sequer. Estripulias como as que se viram durante o governo de Dilma Rousseff mostraram que o dragão está sempre à espreita. Ao menor sinal de vacilo dos responsáveis pela política econômica, a carestia dá as caras e o resultado todos já sabem: aumento de juros e crescimento menor da economia. Pior: são sempre os mais pobres os principais prejudicados.

Portanto, é imperativo que o governo recém-empossado mantenha a rigidez no combate à inflação. O próximo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ainda depende da aprovação do Senado para tomar posse, mas está ciente de que, com preços descontrolados, não há política econômica que dê certo. Nos últimos anos, não há nenhum presidente do BC que tenha assumido em condições tão favoráveis, conjugando inflação abaixo da meta e juros no menor nível da história.

Se seguir à risca a cartilha do bom-senso, o futuro presidente do Banco Central poderá se dedicar a temas mais prementes, como a redução dos encargos cobrados pelos bancos de empresas e consumidores. Crédito mais barato significa mais demanda para investimentos e para consumo, as duas principais alavancas para que o crescimento econômico ganhe tração. Não é possível que o Brasil continue ostentando as maiores taxas de juros para o crédito do mundo civilizado.

Olhando para a frente, o país tem uma oportunidade ímpar para crescer de forma sustentada. Com a inflação sob controle, o governo poderá dedicar todas as energias para a reforma da Previdência e o ajuste das contas públicas. Se conseguir superar essa etapa, é muito provável que o Banco Central mantenha a taxa de juros (Selic) nos atuais 6,50% ao ano. A Selic só voltaria a subir em 2020, ainda assim, para acomodar eventuais altas de preços. Uma notícia alvissareira.

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