O que muda na economia

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/01/2019 03:00 Atualizado em: 05/01/2019 21:44

Criou-se no Brasil uma onda de otimismo com o novo governo federal, que é muito positiva para a economia, pois desperta o espírito animal dos empresários e induz maiores investimentos e gastos com consumo. Esse estado psicológico pode ser importante para que possamos ter uma retomada econômica de verdade, com crescimento razoável. A questão que se coloca é entender o que muda com o novo governo para se ter uma ideia se esse otimismo é sustentável. Além disso, cabe tentar entender quais as possíveis ameaças a ele. Basicamente percebe-se que a mudança é de intensidade do que deve ocorrer, mas a agenda macroeconômica é parecida. Entretanto, a condução social e política dela pode ser bem diferente, o que é tanto uma oportunidade como uma ameaça a sua continuidade na intensidade que precisamos.

O governo Temer baseou sua estratégia econômica no tripé: (i) ajuste fiscal (teto dos gastos, privatizações e concessões, contenção de gastos diversos); (ii) mudanças regulatórias liberais (reforma trabalhista, estabelecimento da TLP, redução do BNDES e da atuação dos bancos públicos); e (iii) promoção da competição (abertura comercial, redução da cooptação das agências reguladoras pelos setores privados regulados, menor intervenção política nas estatais, criação da duplicata eletrônica, etc.). O Governo Bolsonaro, por sua vez, também concentra seu foco nesses três itens: (i) Ajuste fiscal (reforma da previdência, redução de cargos comissionados, mais privatizações e concessões, outras reduções de gastos); mudanças regulatórias liberais (redução da burocracia, aprofundamento da reforma trabalhista, maior redução do BNDES e bancos públicos, simplificação tributária); (iii) promoção da competição (abertura comercial). Então parece que a mudança proposta é de intensidade.

Entretanto, algo mais, muito importante, muda. A disposição de Bolsonaro de enfrentar as corporações é bem diferente da que foi apresentada pelo presidente anterior. Temer sucumbiu diante dos interesses corporativos da casta superior dos funcionários públicos, que consolidaram seu poder e privilégios através dos poderes legislativo e judiciário, e dos interesses de segmentos do setor privado específicos, dos chamados de piratas privados pelo ministro Paulo Guedes. Nesse contexto, ele aumentou salários da elite do funcionalismo e não conseguiu conter benefícios gerados nas relações com o setor público, além de ter fracassado na aprovação da reforma da previdência. A redução da burocracia também foi tímida por tocas interesses desse público. O novo presidente promete ser mais incisivo nesse enfrentamento. Busca mudar inclusive a relação com o Congresso Nacional para não voltar a ser refém das corporações. O sucesso nessa empreitada é o grande desafio. Nesse contexto, o fracasso dessa nova estratégia é a grande ameaça, pois poderá levar a um governo sem força e totalmente entregue aos interesses corporativos de setores sociais específicos, como ocorreu no último ano do Governo Temer. Uma saída de Paulo Guedes seria a grande sinalização de que a estratégia fracassou.

Certamente a nova política a ser seguida renderá bons frutos para o povo brasileiro. Mais crescimento econômico e bem-estar para a maioria da população. Segmentos sociais específicos, contudo, deverão perder benefícios. ONGs vão ter foco em atividades mais produtivas, e menos em transferências generosas do setor público; o sistema S poderá perder um pouco de sua natureza de setor público, tendo que trabalhar mais e com menos conforto e os empresários que se penduram demais no estado perderão parte de suas fontes de ganhos. Isso fará com que mais gente pense em produzir, ao invés de ser apenas rentistas.

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