Editorial Os sinais de Michelle

Publicado em: 03/01/2019 03:00 Atualizado em: 03/01/2019 08:38

Michelle Bolsonaro quer fazer história. Discreta durante a campanha eleitoral, a primeira-dama quebrou o protocolo na estreia do marido como presidente do Brasil. Após a transferência da faixa presidencial de Michel Temer para Jair Bolsonaro, ela discursou no parlatório do Palácio do Planalto. Falou antes mesmo do novo chefe do Executivo e em libras, a língua brasileira de sinais. Não se dirigiu somente aos surdos que assistiam à cerimônia na Praça dos Três Poderes. Chamou a atenção de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, com ou sem qualquer deficiência, que acompanhavam a posse em Brasília ou pela TV, para a questão da inclusão – ou da falta dela. Desta vez, não foi o vestido ou o cabelo usado pela primeira-dama na posse que ficou marcado na primeira aparição da mulher de um presidente.

“Gostaria de modo muito especial de dirigir-me à comunidade surda, às pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos: vocês serão valorizados e terão seus direitos respeitados. Tenho esse chamado no meu coração e desejo contribuir na promoção do ser humano”, disse Michelle. Ela integra o Ministério de Surdos e Mudos da Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde atua como intérprete de libras nos cultos.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que existem no país 9,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva. Desses, 2,15 milhões têm deficiência auditiva severa. Do total, quase 1 milhão são crianças e jovens de até 19 anos. Os dados foram originados no Censo de 2010. As conquistas desse segmento da população são muito recentes, o que reforça que ainda há muito a se fazer.

Sancionada em 2002, a Lei 10.436 reconheceu a língua brasileira de sinais como forma legal de comunicação e expressão no país. A legislação determinou também que deve ser garantido, por parte do poder público e empresas concessionárias, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão de libras, com qualificação de intérpretes. A norma completará 17 anos e vai ganhando força contra barreiras à acessibilidade. O Decreto 5.626 tornou obrigatória, em 2005, a disciplina de libras nos cursos de formação de professores de nível médio e superior.

O assunto virou foco do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2017 e causou polêmica. Logo no ano em que passou a contar com o auxílio de vídeos para a aplicação das provas em libras, o tema cobrado na redação foi justamente os “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Houve quem afirmasse ser impossível discernir sobre o assunto. E houve também quem comemorasse a escolha como um “grito de socorro”. Michelle Bolsonaro ouviu. E pretende ajudar.

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