Fake news, verdade e absolutismo

Marcos Pena Júnior
Economista

Publicado em: 02/01/2019 03:00 Atualizado em: 02/01/2019 09:32

Era um final de tarde agradável de alguma sexta-feira de novembro há uns anos. Estava reunido com colegas de trabalho para uma, frequentemente salvadora, happy hour. Nossa primeira rodada de chopes mal havia chegado e debatíamos sobre a situação política do país. No meio do debate, uma colega declarou solene e categoricamente: “Não há essa coisa de verdade absoluta, a verdade é relativa”.

A verdade é relativa. Lembro de perder o colorido que havia na composição da colega. Sua clara e bonita pele, seus cabelos loiro-acastanhados, seus olhos azuis, até mesmo suas roupas, tudo nela tornara-se cinza, enquanto a frase ecoava na minha cabeça: a verdade é relativa. Ela explicou que “o que é verdade para mim, pode não ser para você; o que é verdade hoje, pode não ser amanhã”. O que mais me espantou foi que ela não havia terminado nem a primeira tulipa de chop, e era acostumada a beber. Logo concluí que não poderia ser efeito do álcool.

Tentei esboçar o argumento que descrevo na sequência, mas não consegui. A verdade relativa da minha colega se impôs ainda não havia chegado à metade da minha primeira frase. Desisti da conversa. Não por ter me dado por vencido, mas por ter percebido que se para ela não há verdade absoluta, havia, ao menos, algo absoluto: as ideias que já estavam em sua cabeça.

Em meio a atual guerra de narrativas na nossa cena política, fake news à direita e à esquerda, entendi que seria interessante expor esse acontecimento e meus argumentos a respeito (já que não consegui fazê-lo oralmente àquela mesa). Resta claro que existem duas possibilidades de valor para a afirmação “a verdade é relativa”: verdade ou falsidade. Se se entende que a afirmativa é falsa, decorre que a verdade não é relativa. Por outro lado, caso se entenda que a afirmativa é verdadeira, então ela pode ser verdadeira e falsa, uma vez que a verdade (afirmativa verdadeira) é relativa. Assim, a verdade pode ser relativa, em alguns momentos, situações; e absoluta em outros. Ora, não é preciso genialidade para perceber, mais que o paradoxo, o absurdo da afirmação.

Diante de tantos absolutismos que temos observado (e destaco aqueles que afirmam não haver verdades), acredito ser de extrema importância buscarmos esclarecimento nos temas que nos afetam e estarmos sempre preparados e cientes dos fatos e seus detalhes ao nosso redor. O que também implica necessidade de atenção a perguntas que se imponham. Finalizo com um exemplo: a quem interessa disseminar essa ideia de relativismo da verdade?

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.