O Brasil de Bolsonaro

Luciana Grassano Melo
Professora de Direito da UFPE
opiniao.pe@diariodepernambuco.com.br

Publicado em: 26/12/2018 09:00 Atualizado em: 25/12/2018 21:36

Eu ainda não escrevi sobre o Brasil de Bolsonaro, porque não consegui parar de rir. Não sei se o riso é de desforra ou de nervoso, mas ainda não consegui parar de rir.

Ri demais com a história do Fabrício, motorista do Mito - que foi eleito para acabar com a corrupção no Brasil. Fabrício Queiroz, ele mesmo, companheiro de quartel e de pescaria de Jair Bolsonaro, que mora num cafofo em Taquara, zona oeste do Rio, apesar de movimentar 1,2 milhão de reais em sua conta, fazer saques de valores altíssimos, passar cheque nominal de R$ 24.000,00 para a primeira-dama e ter boa parte da família empregada nos gabinetes dos Bolsonaro. Não, claro que não! É claro que Fabrício não pode ser “caixinha” do Bolsonaro. Já já ele aparece, dá fim ao seu sumiço e conta uma “história plausível”, como já a contou a Flavinho Bolsonaro.

Vou dizer a vocês uma coisa, sabem que ainda sinto dor na barriga de tanto que eu ri da história do Moro? Sérgio Moro, ele mesmo, ex-juiz supremo do Brasil que largou a toga para virar Ministro da Justiça e Segurança do Bolsonaro - presidente que ele ajudou a eleger tirando do páreo o Lula, seu principal adversário. Na verdade, não sei se ri mais com ele ou com o Onyx Lorenzoni, futuro Ministro-Chefe da Casa Civil do governo anticorrupção de Jair Bolsonaro, que afirmou não ter medo da investigação em andamento no STF sobre o recebimento de caixa dois do grupo J&F, porque “já se resolveu com Deus”. Isso mesmo. Ele já se resolveu com Deus! E Moro, o ex-juiz supremo do Brasil, disse o que sobre isso? Adivinha! Ele disse que o Onyx é de sua “confiança pessoal”. Achou pouco? Disse mais: “Ele já admitiu e pediu desculpas”. Acreditem ou não mas foram essas as doces palavras do ex-juiz supremo do Brasil que, de olho no Sodalício, largou a vida de vitalício para servir a um estrupício.

Só rimando mesmo para aguentar a comédia seguinte: pastora Damares, futura Ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos do Brasil de Bolsonaro. A pastora Damares é um caso à parte. Ela não se resolve com Deus -  como o Onyx, ela fala por Deus. E Deus disse a ela que “ é o momento de a igreja ocupar a nação. É o momento de a igreja governar. Se a gente não ocupar este espaço, Deus vai cobrar”. Mas não pensem que ela é só uma fanática. Ela é pior, muito pior: a futura ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, defendeu nesta terça-feira a aprovação de um projeto que torna o aborto um crime hediondo, aumenta as penas e ainda prevê uma espécie de “bolsa estupro”.

Mas não apostem que eu estou rindo muito. O mercado está rindo muito mais. Está rindo de satisfação, é claro! E não está nem aí para esse festival de bizarrices do Brasil de Bolsonaro. O que o mercado quer mesmo é que o circo continue, para que o povo se distraia com tanto escândalo, e nem pare para se questionar sobre os interesses de quem estão sendo patrocinados e protegidos pelo super ministro da Economia: o ultraliberal Paulo Guedes.

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