Conquistas dos deficientes visuais

Bartyra Soares
Membro da Academia Pernambucana de Letras
mbartyra@yahoo.com.br

Publicado em: 26/12/2018 09:00 Atualizado em: 25/12/2018 21:35

Jorge Luis Borges faleceu sem haver pisado no patamar do avanço da informática. Daí ter “escrito” em 1969 o poema Elogio da sombra, após haver perdido inteiramente a visão, no qual afirmou: “...Não há letras nas páginas dos livros [...]/Das gerações dos textos que há na Terra/só terei lido uns poucos/os que continuo lendo na memória/lendo e transformando”.

Para os portadores de cegueira ou baixa visão, desde há alguns anos, a realidade é outra. Os livros impressos continuam sem letras. Entretanto, graças a uma iniciativa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma ampla porta se abriu para este segmento. A universidade desenvolveu um sistema operacional de voz que atua com suas próprias ferramentas, denominado de Dosvox. A leitura de livros editados hoje em dia, atualíssimos até, não é mais inacessível aos deficientes visuais por conta dos recursos informatizados.

Com o intuito de complementar e aprimorar tais recursos disponíveis, os deficientes usufruem dos chamados leitores de tela do Windows como o Virtual Vision, o Jaws, o NVDA, - solução para que possam usar com autonomia o Windows e outros aplicativos que possibilitam o acesso às redes sociais.

Mas os avanços não param por aí. Há cerca de algum tempo, surgiu a audiodescrição. Trata-se de um recurso que veio beneficiar àqueles que fazem parte do mundo dos privados da visão física.

Nas apresentações teatrais, espetáculos de qualquer espécie, exibições de filmes, com o auxílio de um fone de ouvido especial, o deficiente tem a oportunidade de acompanhar todas as cenas e fatos, visto que a audiodescrição é uma narração simultânea transmitida por um profissional preparado para essa finalidade.

É uma descrição clara, objetiva e subjetiva de todas as informações que são compreendidas visualmente e que não estão contidas nos diálogos. Por exemplo, expressões faciais e corporais que denotem algo esclarecedor da trama, das cenas, sobretudo, dos silêncios. Além de Informações sobre o ambiente, figurinos, linguagem gestual, efeitos especiais, mudanças de tempo e espaço.

As descrições ocorrem nos momentos entre os diálogos e os intervalos dos instantes sonoros, nunca atropelando o conteúdo, de forma que os relatos audiodescritos se harmonizam com os sons das apresentações. A Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, detentora do projeto “Alumiar”, a cada quinze dias, alterna exibições cinematográficas, no Derby e em Casa forte, levando ao ar filmes que disponibilizam a audiodescrição para um público que cada vez mais se encanta e se apaixona pela sétima arte.

Há os defensores da afirmação de que fatos inusitados acontecem na vida de todos os seres humanos. Muitos não querem buscá-los por comodismo, descrença, falsa miopia que se autoimpõem e por outros motivos por eles próprios indecifrados. Mas, existem os que lutam, descobrem o caminho da evolução, do crescimento, da conquista, a ponto de tornar natural uma frase de Clarice Lispector: “Ser cego é ter visão contínua”, como se fosse um complemento de dois luminosos versos de Goethe, em Fausto: “Nada te abale no objetivo que palmilhas;/Afeito estás, de há muito, a maravilhas”.   

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