White Christmas

Tiago Lima
Sócio de Lima e Falcão Advogados

Publicado em: 25/12/2018 03:00 Atualizado em: 25/12/2018 10:26

Quando Irving Berlin lançou White Christmas, ninguém imaginava o que o inspirara a compor a mais executada das músicas natalinas. A inspiração viera das visitas anuais ao túmulo do filho, que morrera em um dia de Natal. E quando decidiu divulgar a canção, Irving tivera um certo receio de incutir melancolia nas tropas americanas: sim, o mundo estava em guerra, e não havia muito a comemorar.

Pensando nisso - em árvores de natal, sinos tocando, melodias no ar -, pensando nessa época de todos os anos, impossível não meditar no conceito filosófico do que chamamos de “Natal”.

Muito tempo antes de White Christmas, Phillips Brooks faria uma expedição pelo Oriente Médio e escreveria a belíssima “Pequena Vila de Belém”. Se existisse um túnel do tempo, veríamos os humanos sempre à procura de um menino-rei, de um enigmático príncipe das coisas singelas, príncipe de uma paz pela qual ansiamos todos os dias.

Acreditando ou não na natureza dessa divindade, quer ateus ou religiosos, trocamos presentes, doamos velhas roupas, visitamos hospitais infantis, lembramo-nos dos esquecidos, voltamos nossos olhos para as prisões. Até no trânsito, somos mais cordatos. E nesse misterioso clima, tornamo-nos mais magnânimos, tolerantes, pacificadores, amorosos, sensíveis. Como se o mundo inteiro necessitasse de nossa bondade.

Se você não acredita no sentimento mágico do natal, mas é cinéfilo, assista A Christmas Carol, de Clive Donner, extraído do fantástico conto de Dickens. E divirta-se vendo o “velho Scrooge” tentando ser mais feliz.

Todos os dias, um dia de Natal. Aristóteles falou sobre isso. Confúcio falava disso. Os carbonários, os poetas, os iluministas, o “Jesus” falava disso. Mil canções, milhares de poesias, romances, tratados e tratados de economia: um mundo melhor para o ser humano.

Muitos dedicaram a vida a isso. Muitas vidas foram ceifadas nessa luta por um mundo melhor. Semear o trigo, repartir o pão. Mártires, para os cristãos. Iluminados, para os holísticos. Cientistas, para os racionais. Heróis, para os libertários. E tudo se encerra no que chamamos de bem comum.

O brilho de pequenos olhos diante do presente natalino. A ternura inesquecível de uma mão enrugada. A fragrância de flores do antigo perfume de uma mãe. Nostalgia e alegria se misturam.

Então, o que fazer com essa estranha confusão de sentimentos? Deixar que eles adormeçam, até que venha o outro Natal, ou mantê-los acordados, o ano inteiro, e um motivo para o brilhar de outros olhos?

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