Paisagens e paisagistas

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 24/12/2018 03:00 Atualizado em: 25/12/2018 10:27

Próximo à minha casa enfeitando a paisagem, havia um bosque de ipês roxos e amarelos, demarcados com fileiras de pés de eucaliptos. Eu podia vê-los, abrindo a janela do meu quarto de menina. Achava o eucalipto uma planta triste, à noite, quando iluminado pela luz da lua suas folhagens prateavam. Hoje, lembro como coisa viva e dói esse lembrar, como tudo que guardo da infância. Dos passeios ao Sítio Quatis, com as primas da mesma idade e alunas do meu Colégio Santana. Um dia era pouco para os nossos devaneios e brincadeiras. Curiosas, perguntávamos à freira do nosso colégio, nossa acompanhante que de mediato respondia: A pedra está no mesmo lugar, desde quando Deus criou o mundo. Anos depois, compreendi o “engenho e arte,” da natureza, através das explosões das rochas vulcânicas nas profundezas dos oceanos há milhões de anos. Mudando a rota dos mares, oceanos, terras nunca habitadas A magnífica imagem da Pedra do Navio, poderia constar do quadro das “Sete maravilhas” de Pernambuco, entre árvores nativas, jaqueiras, mangueiras, passou à atração turística no município de Bom Jardim no Agreste setentrional de Pernambuco.

O paisagista, pintor, poeta, Abelardo Rodrigues, um dos maiores colecionadores de Arte Sacra do Brasil, fora chamado pelo Departamento de Estradas de Rodagem para fazer um ecológico jardim em torno das árvores nativas, dos cactos.coroas de frades Na confecção dos meus quadros a tinta a óleo dera-me alergia. O pintor, paisagista, nosso amigo Abelardo Rodrigues também tivera alergia com a tinta, convencera-me pintar com tinta acrílica, até então de difícil comercialização no Recife. Nas minhas viagens fora do Brasil, procurava trazer o maior número de acrílicas, para executar o meu trabalho, naquele ano, atendendo ao convite do governador Tarcísio de Miranda Burity para expor na Galeria Gamela, em João Pessoa, honrada com o catálogo da exposição, assinado pelo mestre Gilberto Freyre., por ser pintor, eu pintora chamava-me ,“colega.” O sociólogo foi o homenageado da programação da semana pela Secretaria de Educação e Cultura e governo do estado da Paraíba. Houve uma série de jantares ao homenageado por escritores, intelectuais, dos quais participei com Mauro Mota.

Aproveitei alguns dias de férias no Rio, hospedada com o casal de amigos e compadres, Maria Gessen, e Nertan Macedo, quando à convite do casal Cecília e Sílvio Mariz, para um passeio a Barra do Guaratiba ao ateliê de Ventura, pintor, desenhista, gravador e auxiliar na execução de painéis dos pintores consagrados: Clovis Graciano, Di Cavalcanti, e Portinari. Burle Marx participou de várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no Exterior. Saí do ateliê, regiamente presenteada com o belo quadro Abandono em Azul, assinado pelo pintor Ventura, presente, dos amigos Cecília e Sílvio. Já na Estrada de Guaratiba, bem perto do Sítio de Burle Marx aproveitamos para visitá-lo. Ali fomos recebidos por ele, que nos mostrou parte do imenso jardim, com plantas exóticas e tropicais da flora brasileiras e de outros paises. Na sua casa colonial, vimos parte do seu acervo: obras de arte, objetos pessoais, coleção de cerâmica, as bibliotecas, um invejável piano de cauda Steinway, como tive vontade de ter um igual. Roberto Burle Marx, grande figura humana e de paisagista que legou ao Recife, belas praças e jardins.

PS. Ao mestre Raimundo Carrero, minhas desculpas por não ter podido comparecer ao lançamento, da Antologia Carrero com 70. Com o abraço de parabéns;

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