Surge um novo Raimundo Carrero. E eu nem sabia

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 24/12/2018 03:00 Atualizado em: 25/12/2018 10:28

O texto literário tem dessas coisas: ainda que seja cópia de um modelo vai, pouco a pouco, ganhando autonomia. Agora mesmo está acontecendo comigo: Os colaboradores da Antologia Carrero aos 70 decidiram reinventar episódios da minha vida, criando nuances, inventando diálogos, cenas e cenários, com tal inventividade que comecei a ver um novo Carrero, ainda completamente desconhecido para mim mesmo. Fiz questão de seguir a cronologia da obra. Divertimento e surpresa.

De repente, a cronologia da obra coincidiu com a cronologia da minha ida desde a infância. Assim foi nascendo uma espécie de biografia, não de todo imaginária. Magnífico o prefácio de Luis Cláudio Arrsaes – o nosso Lula Arraes – definindo a minha trajetória literária, seguida da apresentação de Margarida Cantareli. O texto da contracapa traz a assinatura da querida Luzilá Gonçalves Ferreira, E para não me afastar muito, lanço meus olhos ao artigo de Lourival Holanda, me surpreendendo com Narciso lendo Carrero. Muito, muito bem escrito, sobretudo com esta revelação. Vou me recolher ao espelho. Ou é outra a atitude de Narciso? Surgem as chamas da paixão. Mais um Carrero que me inquietou.

Marilena de Castro, que é minha mulher, narra um fato perdido da minha adolescência. Naquele período fui provisório. Isto é, morava com meu irmão Geraldo na Torre ou com meu irmão Waldemar, na Boa Vista. Quase sempre meus amigos me perguntavam; “Onde você mora, Carrero?” “Estou morando na Torre”. Agora estou morando na Boa Vista. Mudava sempre para equilibrar as despesas dos meus irmãos. Meus amigos insistiam “por que você se muda tanto?” “Porque sou provisório”.Acrescento que isso me chateava muito. E muito. Alguns preferiram ilustrar minhas aulas na Oficina de Criação Literária.

Mas devo agradecer mesmo é a Lúcia Souza e Josy Almeida que tiveram a gentileza de reunir toda esta gente e outro tanto para publicar este livro que me envaidece porque sou vaidoso, sem dúvida. Um traço humano, sem susto. Contraditório? Sim, contraditório. Um esforço imenso das meninas para celebrar os meus 70 anos, que eu preferia 20.

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