Editorial O valor da água

Publicado em: 11/12/2018 03:00 Atualizado em: 11/12/2018 08:52

Em época de chuvas, como a que o país atravessa, com precipitações pluviométricas acima da média em várias regiões, de nada adianta a recuperação do nível dos reservatórios, se a população e os responsáveis por atividades econômicas, como irrigação agrícola e pecuária, continuarem a usar mal o recurso natural insubstituível para a sobrevivência humana no planeta. Ao contrário do que muitos pensam, o consumo urbano de água no Brasil é bem menor do que o de determinados setores da economia, representando apenas 23%. A agropecuária, por seu lado, responde por quase 70% de todo o consumo. Diante dessa realidade, falta ao país um planejamento mais efetivo para uma gestão eficiente de seus recursos hídricos.

Reconhecido como uma das maiores reservas de água doce do mundo, o Brasil tem abundância em algumas regiões e escassez em outras. Para exemplificar, a maior parte da água potável encontra-se na Região Norte, onde vive somente 6,9% da população, enquanto, no Sudeste, 42,65% dos brasileiros são obrigados a viver com apenas 6% da água doce disponível. Ressalte-se que no Sudeste está a maior concentração industrial do país, completamente dependente dos recursos hídricos para se desenvolver.

A questão que aflige os especialistas é que, além de o país não ter um planejamento adequado para a gestão da água, menos de 50% do esgoto é tratado, causando a poluição dos cursos d’água e diminuindo a disponibilidade hídrica. Outro grave problema é o desperdício provocado pelas perdas nos sistemas de distribuição. De acordo com o Instituto Trata Brasil, em 2016 perdeu-se 38% da água potável, índice inaceitável nas nações mais desenvolvidas. O pior é que isso representa uma perda de receita no valor de R$ 10,5 bilhões, só naquele ano, o que corresponde a 92% dos R$ 11,5 bilhões investidos em saneamento básico no mesmo período.

A solução para tão grave problema passa pela adoção de medidas integradas que permitam o planejamento da gestão da água das cidades em três níveis: macro, com a gestão e preservação das bacias hidrográficas; meso, por meio da implantação de infraestrutura adequada que reduza a poluição e o desperdício; e micro, que engloba mudanças culturais que resultem em menor consumo de água nas edificações projetadas para promover maior eficiência hídrica. Ademais, campanhas mostrando as formas de desperdício e mau uso do recurso também devem ser intensificadas para conscientizar os cidadãos da importância de se preservar esse verdadeiro tesouro.

Medidas como a dessanilização da água do mar é uma alternativa viável para a garantia da segurança hídrica do Brasil, principalmente nas faixas litorâneas com grande densidade populacional. Essa solução já vem sendo colocada em prática com sucesso em países como Espanha, Austrália e Israel. Isso devido a fatores como custo de energia e inovações tecnológicas, o que torna tal método de obtenção do recurso financeiramente viável. Outra alternativa é o reúso planejado do esgoto sanitário, o que já vem sendo feito em larga escala na Califórnia, o estado mais rico dos Estados Unidos. O inquestionável é que a implantação de um programa de grande alcance para a gestão da água no Brasil é inadiável.

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