Um escritor diplomata luso-brasileiro

Marly Mota
Artista Plástica, Membro da Academia Pernambucana de Letras.

Publicado em: 10/12/2018 03:00 Atualizado em: 09/12/2018 20:43

Não são muitos os homens na diplomacia e nas letras, que tenham tido como Dário Castro Alves,  o reconhecido  mérito  cercando o seu nome. Conheci-o na década de 80, casado com a escritora Dinah Silveira de Queiroz,  que escrevera  a Mauro Mota, com o propósito  de vir à  nossa casa,  comunicar a sua intenção de candidatar-se à Academia Brasileira de Letras. Viria com o marido o embaixador do Brasil em Portugal, Dário Moreira  de Castro Alves.  Dia marcado chamamos alguns amigos, entre eles, o poeta Waldemar Lopes e Iracy, da estima do casal, noite  descontraída, comentários sobre literatura e diplomacia.  Dário, Waldemar e Mauro contavam casos divertidos. De volta à Brasília, Dinah escreveu uma bela crônica de jornal sobre o  nosso encontro.

Após deixar o cargo Casto Alves dizendo-se um cidadão de  duas pátrias, permaneceu em Lisboa. Numa das minhas viagens a Portugal, conheci Rina Bonadies, de quem me tornaria amiga. Pianista, inteligente, sagaz, foi secretária de Dário Castro Alves quando embaixador da Organização dos Estados Americanos em Washington  (OEA), com quem se casou, após o falecimento de  Dinah  Silveira  de  Queiroz. Em Lisboa hospedava-me no Restelo, no apartamento da embaixatriz Maria Emília Caldas Faria, minha amiga,  desde quando o marido diplomata Manuel Faria serviu em Pernambuco.

Sem perder a simplicidade que o caracterizou, Dário, ao lado de Rina, nos levava pelas ruas  do histórico Chiado à Baixa Pombalina, ao festejado Círculo Eça de Queiroz, ao  Cenáculo Literário Marquesa de Valverde, onde falou sobre a poesia de Mauro Mota. Os passeios sempre terminavam com  almoço ou jantar regados com  bons vinhos. O frio ajudava. Dário Castro Alves, grande estudioso da obra de Eça de Queiroz  foi o idealizador e realizador dos jantares queirozianos, no nobre restaurante Tavares. Incentivou para que realizássemos  esses jantares no  Recife. Entre os seus livros; Era Lisboa e Chovia, Era Tormes e Amanhecia, Neste, fez axaustiva  pesquisas, ao afirmar que onde se come mais apaixonada e poeticamente  é  no romance A Cidade e as Serras. Completou a trilogia com, Era Porto e Entardecia, citando  todos  os vinhos e bebidas alcoólicas, do  absinto à zurrapa,  na obra de  Eça de Queiroz.

Inspirada em alguns livros de Eça de Queiroz, criei as Cenas Ecianas  12 quadros e 76 ilustrações  expostas no Real Gabinete Portugues  de Leitura  ao lado da exposição: Percurso da Geografia – da Biografia  á Ficção, de Eça de Queiroz conduzida  de Lisboa  por Manuel Lopes, dele recebo carta  (...) “As Cenas  Ecianas, saídas  de Tormes ganharam outras paragens  e renovada admiração. Passando  por Guimarães , como atestam as fotografias  e o recorte de Imprensa que junto anexo. Na  Biblioteca Raul Brandão, atraíram a mirada atenta  do escritor José Saramago que as comentou com entusiasmante  apreço  e cobiçado interesse aquisitivo “

Meus quadros em 2002 foram adquiridos pela Cãmara Municipal.  Estão numa sala do  Museu Etnográfico,  Histórico,   Praça Eça de Queiroz. Sempre desejei  que ficassem em Portugal      

Duas datas importantes no calendário eciano  marcaram a presença de  Rina e Dário Castro Alves, no  Recife. Em 1995, data  do  nascimento de Eça de Queiroz, em 2000, centenário de sua  morte.  Nas duas ocasiões jantaram no meu apartamento. Dário Castro Alves foi homenageado com Almoço de confraternização no Restaurante Luzitano pelos integrantes da Sociedade Eça de Queiroz, presidida pelo escritor eciano, meu amigo, Dagoberto Carvalho Junior. Depois do falecimento de Mauro Mota, fiquei recebendo normalmente, o Boletim da Academia Brasileira de Letras, com a notícia de Dário  Castro Alves que seria  homenageado  pelos Acadêmicos:  Afonso Arinos Filho, Carlos Nejar e Alberto da Costa e Silva, que o sucedeu na Embaixada de Portugal, lembrando que o seu grande amigo “no Itamarati “, foi um velho aspirante à Academia Brasileira de Letra.” Com a morte de Rina, em 2002,  Dário Castro Alves,voltou a Fortaleza para ficar ao lado da família. Sentindo  os  efeitos do mal de Parkinson veio a falecer, para a tristeza dos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

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