Editorial Dragão sob controle

Publicado em: 08/12/2018 03:00 Atualizado em: 09/12/2018 20:44

Em meio às incertezas que atormentam o país, sobretudo em relação à capacidade de reação da atividade econômica, uma notícia alvissareira torna o horizonte menos perturbador: a inflação sob controle. Dados liberados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,21% em novembro, o menor resultado para o mês desde 1994, quando foi editado o Plano Real.

Para um país com o histórico inflacionário do Brasil, ter o IPCA caminhando abaixo da meta perseguida pela Banco Central, de 4,5% neste ano, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, é um trunfo a ser comemorado. Preços sob controle favorecem, sobretudo, os mais pobres, que não têm condições de se protegerem de uma escalada de remarcações. Inflação alta é concentradora de renda. Não por acaso, o Brasil acumula um passivo pesado de desigualdade social que levará anos para ser zerado.

A inflação baixa permitiu ao país conviver com juros mais civilizados. A taxa básica da economia (Selic) está em 6,50% ao ano e, mantido o ritmo atual do IPCA, certamente não haverá necessidade de o Banco Central voltar a subir os juros no ano que vem. E mesmo que venha a fazê-lo, será uma elevação marginal, que em nada afetará a esperada retomada do Produto Interno Bruto (PIB), que continua patinando.

Se quiser manter esse quadro benigno para a economia, o futuro governo não poderá abrir mão da reforma da Previdência. Dez entre 10 especialistas afirmam que, com os ajustes no sistema previdenciário, o deficit fiscal se reduzirá aos poucos, afastando qualquer possibilidade de crise. Quanto menor for a necessidade do Tesouro Nacional de se financiar no mercado, menor será o custo da dívida publica, que representa quase 80% do PIB.

É legítimo para o governo comemorar os bons números da inflação — de janeiro a novembro, o IPCA acumula alta de 3,59% —, mas é importante ter em mente que a luta contra a inflação é constante. Qualquer descuido pode alimentar o dragão adormecido. Políticas econômicas equivocadas, como, por exemplo, as que prevaleceram na administração de Dilma Rousseff, são propícias para estimular a carestia.

Com seu mandato chegando ao fim, Michel Temer fez direitinho o dever de casa. Jamais brincou com a inflação, ciente de que a disparada dos preços poderia lhe custar o mandato que ele tanto fez para preservar. A expectativa é de que o governo que tomará posse em janeiro de 2019 se mantenha no mesmo caminho. Se optar por um desvio, certamente pagará caro. Felizmente, os sinais emitidos até agora são de equilíbrio. Melhor para o país.

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