O transplante de órgãos e a força da nossa medicina

Cláudio Lacerda
Cirurgião. Professor da UPE e da Uninassau

Publicado em: 29/11/2018 03:00 Atualizado em: 29/11/2018 11:44

Em meados do mês em curso, realizamos o primeiro transplante de fígado do Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa - Paraíba, estado que, a despeito do seu grande potencial, vem tendo, historicamente, um dos piores desempenhos em captação e transplante de órgãos do país. A ideia dos que nos convidaram para esse novo desafio vai além do objetivo de ali consolidar um programa de transplante hepático, com seu alcance assistencial, didático e científico.

Pretende sensibilizar as autoridades e a população paraibana para a importância do transplante de órgãos em geral, bem como para a capacidade que tem de alavancar, indiretamente, a qualidade da medicina prestada à população. Convencê-los de que isso tem que estar acima das questões de governo, porque uma questão de estado. E mais: de que as unidades da federação que ainda não entenderem assim, estão ficando para trás. Perdendo “o trem da história”.

Portanto, realizado o primeiro, pretendemos identificar os problemas relacionados com esse desempenho pífio e buscar, por meio da imprensa local, sensibilizar a população para a questão da doação de órgãos e, em reuniões com autoridades, chamar a atenção para a necessidade de treinar a equipe da Central de Transplantes da Paraíba, além de melhorar sua estrutura física e suas metas. Oferecer a cooperação de Pernambuco, destaque nacional na atividade.

Com o objetivo de realizar, no próximo ano, quarenta transplantes de fígado naquele estado, estaremos evitando o desperdício de tantos doadores em potencial e contribuindo efetivamente para o crescimento imediato do transplante de rim e de coração e, a médio e longo prazo, de pâncreas e de pulmão.

Aqui no Recife, temos realizado mais de 120 transplantes de fígado por ano, o que nos deixa bem posicionados no cenário internacional. Com mais quarenta, nossa equipe estará entre as grandes no mundo. Mesmo assim, a demanda pela operação continuará maior que a oferta de doadores, haja vista que recebemos pacientes provenientes de onze estados diferentes, onde não se faz esse tipo de cirurgia. Com esse novo programa, em João Pessoa, estaremos operando lá os doentes dos vizinhos estados do Rio Grande do Norte e do Piauí. Com isso, estaremos diminuindo a nossa lista aqui e, consequentemente, o tempo de espera e a mortalidade na fila.

Tudo isso diz respeito ao alcance assistencial dessa equipe multiprofissional. Ainda mais gratificante é constatar o alcance didático da atividade, que oferece treinamento contínuo para médicos de diferentes especialidades e para os demais profissionais de saúde. Ademais, essa equipe produz e publica, anualmente, dezenas de teses e artigos de relevância científica.  Que Deus nos dê forças para essa nova missão.

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