SUBNOTIFICAÇÃO

Brasil teria 1,6 milhão de casos da Covid-19, aponta estudo

Publicado em: 08/05/2020 22:36 | Atualizado em: 08/05/2020 22:51

Avenida Paulista, em São Paulo, após o fechamento do comércio. Foto: Roberto Parizotti/Divulgação
Pesquisadores brasileiros apontam uma subnotificação extrema de casos de infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) no país. O total, segundo eles, seria mais do que dez vezes o número atualmente registrado. Ao invés dos cerca de 150 mil casos reconhecidos oficialmente hoje, o país contaria com 1,6 milhão.

Se todos os casos fossem registrados, o Brasil ultrapassaria os Estados Unidos, país com maior número de infecções oficialmente reconhecidas. Os Estados Unidos totalizavam às 21 horas desta sexta-feira, segundo a Johns Hopkins University, 1.283,846 casos. A Espanha, com 222.857 casos, aparece em seguida.
 
De acordo com o estudo brasileiro, 526 mil dos casos estariam no estado de São Paulo, epicentro da doença no território nacional. Quando analisadas as informações do dia 4 de maio, por exemplo, o registro de contágios era 14 vezes maior que a estatística oficial do Ministério da Saúde, de 32 mil contaminações.

A projeção foi apresentada nesta sexta-feira (8) no site COVID-19 Brasil, que envolve profissionais e estudantes de mais de uma dezena de universidades brasileiras e dos Estados Unidos, além de integrantes do Ministério Público do Paraná. O site faz o monitoramento da pandemia.

De acordo com o coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Domingos Alves, um dos envolvidos na pesquisa, “existe uma grande subnotificação de casos”, pois as autoridades de saúde “estão testando só os casos graves, de pessoas que vão aos hospitais”.

O estudo, segundo ele, é importante para revelar a verdadeira situação da doença no país. “A motivação deste estudo é, de alguma forma, contribuir para o planejamento, pois com essa subnotificação tremenda só estamos vendo a ponta do iceberg”, afirmou.

E aponta: “Para se ter uma noção real da dimensão, o ideal seria fazer testes em massa. Como não temos testes disponíveis para todos, as estimativas podem servir de base para o gerenciamento de medidas de confinamento, necessidade de novos leitos e da abertura de hospitais de campanha”.

MODELO
Para estipular a real situação no Brasil, os pesquisadores se basearam nos dados epidemiológicos da Coreia do Sul, apontada como um dos países que melhor enfrentou o novo coronavírus. Eles ajustaram itens como a pirâmide etária, percentual de comorbidade e fatores de risco, considerando também as mortes no país.

“Aparentemente, o número de óbitos é um prenunciador para o número de casos. Já se sabe que a taxa de letalidade em diferentes países é mais ou menos fixa: 5,8% do total de casos”, explicou o coordenador do LIS.

No entanto, Domingos destaca que existe uma discrepância nos dados brasileiros, uma vez que “pessoas morrem com sintomas de Covid-19, mas permanecem como casos suspeitos” nos registros oficiais.

“Essas pessoas que morreram não fizeram testes e, em muitas cidades, já está acontecendo de elas morrerem em casa, sem receberem nenhum atendimento: a subnotificação das mortes”, indica. O grupo considera apenas as mortes confirmadas como base de pesquisa.
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