Farinha pouca meu pirão primeiro em uma democracia formal

Francisco de Queiroz B. Cavalcanti
Diretor da Faculdade de Direito da UFPE

Publicado em: 22/03/2019 03:00 Atualizado em:

O Brasil é um país no qual as pseudoelites, econômicas, políticas, de agentes públicos, ou econômicos, os detentores de grupos de pressão em geral, defendem fortemente seus privilégios como “essenciais ao exercício de seus misteres” e apontam as vantagens alheias como “desvios”, “inaceitáveis e injustas vantagens”. Nesse contexto, os magistrados recebiam “auxílio-moradia”, muitos tribunais ainda pagam vantagens como “substituições”, “acúmulos”, “auxílio combustível” etc. Os Procuradores da República olham, feito símios, para as caudas alheias e esquecem as suas, esquecem ser a única categoria de agentes públicos que percebem licença prêmio, que percebem verbas indenizatórias se ultrapassarem trinta dias fora da sede, ao lado de diárias…alguns, ainda, pretenderam ser gestores de fundo que deveria ser repassado à Petrobras, maior que o produto da alienação de todos os aeroportos do Nordeste. Ainda pretenderam que pudessem ser candidatos a cargos eletivos. Os militares por sua vez, têm um regime de inatividade absolutamente diferenciado – percebem vantagem pecuniária ao deixarem o serviço ativo, não tem decréscimo no cálculo da inatividade, contribuem para o ganho pecuniário da inatividade com percentuais muito abaixo dos demais, conseguem converter um projeto de “reforma de Previdência, em projeto de “ incremento remuneratório”. Têm um colonial séquito de dependentes. Encontram-se muito distantes de exemplos respeitáveis como Osório, ou Rondon. O setor empresarial que defendeu o fim da contribuição sindical compulsória, retirando o principal pilar financeiro dos sindicatos ( muitos dos quais inoperantes) beneficia-se com as bilionárias verbas do Setor S, sem controle, que servem a tantos propósitos, alguns dos quais pouco republicanos, apesar de serem cobrados, compulsoriamente na folha de recolhimento previdenciário. Tem saudade dos melhores tempos do BNDES, ... Esse é o retrato do Brasil. Desigual, injusto, com poucos beneficiários e tantos “contribuintes”. Por outro lado, bens e valores nacionais vão sendo alienados, cedidos, doados. As empresas de aviação nacionais não suportarão mercado com a presença maciça das estrangeiras. A base de Alcântara será “compartilhada” com os americanos, tendo os brasileiros direito a “ver” o que ali é feito. Até a dignidade da exigência do princípio da reciprocidade nas relações internacionais foi afastada. Em troca de concessões concretas tem-se tolas promessas. Ao invés de uma autonomia de vontade, de um espírito de nacionalidade, passa-se a ter um atrelamento a um país que já maltratou filipinos, panamenhos, porto-riquenhos. O nosso país nunca se postou de modo tão servil. O que fazer? Não sei. Vou tomar um suco de maracujá bem forte.

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