Armar a população?

José Luis Simões
Doutor em Educação, professor do Centro de Educação/UFPE

Publicado em: 21/03/2019 03:00 Atualizado em: 21/03/2019 08:56

É preciso armar a população com armas potentes. Adquirir mais equipamentos e valores que provoquem mudanças que o Brasil tanto precisa. É urgente fortalecer o seguinte arsenal: educação, saúde, tolerância e segurança.

É preciso armar a população com educação pública de qualidade. A maioria das crianças e adolescentes não tem acesso a essa importante arma contra a ignorância. Com boa educação o indivíduo tem melhores oportunidades no mercado de trabalho, mais autonomia e independência. As pessoas com mais conhecimento reagem melhor às adversidades, são inovadoras. Com professores valorizados, escolas bem equipadas e seguras, a juventude se desenvolve melhor, ganha cidadania.

No Brasil há a cultura de desvalorização da escola. Isso precisa mudar. A escola precisa ser o foco dos governantes. Educação é investimento. A escola produz o que há de mais importante para o desenvolvimento social, científico e tecnológico do país: pessoas com mais conhecimentos.  

O Brasil avançou na segunda metade do século 20 e início do século 21. Além de reformular a Constituição em 1988, ampliou o acesso à escola pública, criou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), aprimorou a força de trabalho, implantou novas tecnologias de produção e ganhou mais mercados. Lamentavelmente, a legislação trabalhista foi fragilizada no governo Temer.  E mais avanços sociais correm risco de sucumbir com ideias reacionárias subintes.  

Saúde pública de qualidade, com atendimento rápido, trabalhadores da saúde valorizados, medicamentos à disposição do povo e campanhas de prevenção são fundamentais. É preciso investir na saúde preventiva, facilitar acesso às atividades físicas e esportivas, estimular hábitos saudáveis, promover saneamento básico e limpeza de rios e canais, urgentemente.

É preciso armar a população com valores democráticos, estímulo à tolerância, exercício cotidiano de respeito às diferenças, liberdade de expressão e imprensa livre. Fortalecer a cultura democrática é criar ambiente de convívio pacífico com diferentes ideias, crenças e posições políticas.   

O agente que atua na área de segurança pública precisa ser valorizado, receber salário digno,  ter apoio institucional e acompanhamento constante de seu labor. A polícia deve agir em favor da segurança pública e não como agente que amplia a violência urbana. Parte da polícia, tristemente, envereda pelo universo da criminalidade. Esse fenômeno aumenta ainda mais o sentimento de insegurança da população.

Armas de fogo nas mãos da população não é o melhor caminho para combater a violência. Violência urbana é um cancro social. Não se combate essa doença com mais armas circulando. Combate-se com legislação mais rigorosa, investimentos em inteligência policial e diminuição da desigualdade social.

Estimular uma cultura de paz e solidariedade é assaz urgente. O ódio entre as pessoas parece ganhar impulso no Brasil. É preciso estar atento a esse fenômeno. É preciso combater esse movimento. Ódio gera ódio, eleva o ciclo de violência e intolerância.

É preciso armar a população com esperança, otimismo e oportunidades. É preciso carregar as mentes com novas ideias, com tolerância e sabedoria. Daí será possível acertar o alvo, garantir futuro melhor, sem mazelas sociais, menos violência e ódio, mais paz e amor.

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