Editorial Respeito às mulheres

Publicado em: 11/03/2019 03:00 Atualizado em: 11/03/2019 08:33

Na última sexta-feira, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Manifestações por todo o globo mostraram o quanto o desrespeito ainda predomina quando se trata daquelas que são maioria da população. Não faltam estatísticas para comprovar o quanto é preciso avançar na questão da igualdade. Nada, porém, chama mais a atenção no Brasil do que a visão ideológica e equivocada com que o atual governo vem tratando a questão dos gêneros, ao insistir na figura da mulher como sexo frágil. Ao defender tal visão — totalmente ultrapassada —, só estimula o preconceito, o estereótipo e a violência.

Em vez de insistir no discurso de que as mulheres são seres mais frágeis, o governo deveria reforçar as políticas de combate à onda assustadora de assassinatos de cidadãs, na maioria das vezes, mortas pelos companheiros — namorados, noivos, maridos. Estima-se que, somente neste ano, pelo menos 200 namoradas, noivas, esposas, mães foram assassinadas sem punições efetivas. Também não se vê um trabalho eficaz de esclarecimento entre os profissionais de saúde para que possam detectar sinais de violência doméstica. Sob sigilo, esses agentes tendem a encorajar as vítimas a denunciarem seus agressores.

As mulheres não querem ser tratadas como coitadas. Muito pelo contrário. Cobram respeito. No mercado de trabalho, por exemplo, mesmo tendo mais anos de estudos, continuam ganhando, na média, 26% menos que os homens. Mesmo em profissões em que são maioria absoluta, como a de professores, elas têm remuneração 10% menor. O quadro se agrava no caso das mulheres negras, que não chegam a ganhar metade do salário pago aos homens nas mesmas funções. Já está provado que, nas empresas que respeitam a diversidade e valorizam as mulheres, os lucros aumentam.

Dadas as distorções que se veem hoje, ainda se levará ao menos um século para que as mulheres tenham o mesmo tratamento que os homens no mercado de trabalho. Para pular etapas e corrigir o que está errado, o Brasil terá que investir pesado na educação. Nenhuma ferramenta é mais eficiente do que um ensino de qualidade para superar desigualdades e formar cidadãos com capacidade para diferenciar o certo do errado, empreender e exercer a cidadania no seu estado mais pleno. Pena que também a educação no país venha sendo tratada com viés ideológico, em que é mais importante os alunos cantarem o Hino Nacional do que aprenderem o português corretamente.

Se não fizer rapidamente o dever de casa, o destino do Brasil continuará sendo o de ostentar estatísticas aterradoras contra as mulheres — 536 delas são agredidas de forma violenta a cada hora. Atualmente, o país é o quinto no mundo onde mais se mata mulheres. É essa a nação que queremos deixar para nossas filhas e netas? Certamente, não é. Portanto, só um forte engajamento da sociedade em torno de uma agenda progressista, sem ideologia e pragmática, poderá riscar tamanha afronta do mapa.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.