Mulheres e nossas lutas necessárias

Michele Almeida
Psicóloga e consultora da primeira infância

Publicado em: 08/03/2019 03:00 Atualizado em: 08/03/2019 09:02

Podemos pensar que as referências mais antigas dadas às mulheres na religião, na arte e na moral foram criadas por homens. Nas mais antigas das artes encontradas que fazem referência à mulher, encontramos fortes características voltadas só para a fertilidade, estando elas representadas na mesma arte sem braços e sem olhos (Venus de Willendorf, obra paleolítica). Esse passado nos mostra o motivo de tantas lutas, marchas e resistências femininas para que a mulher tenha um papel social. Começando pela primeira onda feminista onde as mulheres lutavam pelas conquistas no campo da legislação, a segunda onda em que se constituía o SER MULHER, e a mais recentes onde entendemos melhor os vários recortes do feminino. Mas para que lutar, e por que lutar?

Precisamos ainda nos posicionar, unir forças, e ter a conscientização da opressão feminina ainda existente, sendo ela fruto de uma construção social. Ainda se faz necessário lutar por leis que nos protejam, e que possibilitem as mesmas oportunidades frente aos homens, sejam elas em vagas de trabalho, em cargos no governo e nas empresas e que principalmente permitam nos apropriar de nossas mentes e corpos. Foi através de lutas que conseguimos o direito ao voto, ao trabalho remunerado, à liberdade para casar quando quisermos, ao divórcio quando não formos felizes no casamento, à proteção contra a violência através da Lei Maria da Penha, ao direito à herança, e à guarda dos filhos, entre outros tantos.

A transformação vem ocorrendo, mas ainda precisamos de um olhar mais humanizado das próprias mulheres, de desconstruir a rivalidade entre nós mesmas, de construir um sistema de rede de apoio e sororidade, e principalmente de lutar por leis mais severas, que fortemente desestimulem os homens a se encostarem nas mulheres sem a permissão delas. Precisamos desconstruir a divisão social de afetos, onde as mulheres choram, apanham, são sensuais e os homens são controlados, inteligentes e frios. Também se faz necessário parar de definir a mulher como símbolo de vaidade e o homem como um guerreiro, onde o poder e a força estão nas suas mãos. ESSA CONDIÇÃO separa homem e mulher da condição humana.

A luta de emancipação continua, principalmente no que diz respeito ao corpo da mulher, que sempre foi o grande desafio. Nela temos que entender e educar o desejo do homem frente à mulher, percebendo que talvez seja essa a maior e mais relevante causa de tantas mortes. O feminismo coloca a mulher em posição de igualdade e humanidade. Não de superioridade. O desejo é que não precisemos mais usar a ignorância para ganhar espaço de voz, que se abram vagas em universidades, mesmo que através de cotas, que se façam valer as leis onde existam mulheres em cargos políticos e organizacionais relevantes. wPrecisamos repensar e desconstruir um discurso milenar ultrapassado, mas as lutas ainda são necessárias. Mas sem perder a delicadeza.

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