A crise econômica favorece Cristina Kirchner

Ignacio Pirotta
Cientista político

Publicado em: 01/03/2019 03:00 Atualizado em: 01/03/2019 09:12

Em outubro há eleições para presidente da República e o governo de Mauricio Macri vê cair sua imagem junto com a crise econômica. Cristina Kirchner, derrotada nas legislativas de 2017, volta a ser a principal concorrência do governo, desta vez com melhores chances de vitória. Segundo a consultora Gustavo Córdoba y Asoc. em pesquisa de janeiro, a intenção de voto num eventual segundo turno é de 33,4% para Cristina e 29,1% para Mauricio Macri.

O eleitorado está dividido em três terços. Um terço a favor de Mauricio Macri, outro a favor de Cristina Kirchner e outro em dúvida e maiormente distante desses dois candidatos. Mas esses terços estão numa dinámica de polarização entre Macri e Cristina, onde o terceiro ocupa o centro. Nesse centro sobressai Alternativa Federal, uma aliança de peronistas não-kirchneristas que procura se instalar como uma alternativa à polarização. A carta ganhadora da Alternativa Federal para quebrar a polarização é a possível pré-candidatura de Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia entre 2002 e 2005, conhecido por ser o ministro que com seu plano econômico tirou o país da crise de 2001-2002.  

Contudo, Cristina Kirchner não tem confirmado sua candidatura. Com uma imagem negativa muito alta, a candidatura dela fortalece as possibilidades de Macri, via a polarização. A candidatura ou não da ex-presidenta é o principal fato que estabelecerá qual será o cenário eleitoral de 2019.

A queda da imagem de Mauricio Macri é principalmente consequência da crise econômica iniciada em maio de 2018, quando se acelerou a desvalorização do peso, que começou o ano valendo 20 dólares e o encerrou valendo 40. A inflação em 2018 foi de 47,6%, a mais alta desde a hiperinflação de 1991.  Com a economia em recessão o PIB se reduziu em 4,1% e o desemprego alcançou 9%. A pesquisa de janeiro da consultora Opinaia mostra que 72% desaprovam a administração do governo. Também indica que as principais preocupações se encontram no andamento da economia em geral (24%), e na inflação (20%), e só 30% acham que a economia melhorará.  

Apesar do cenário de crise económica e grande desaprovação da gestão, Macri ainda tem possibilidades de ser reeleito. A explicação a esse fenômeno pode se achar em duas direções. Em primeiro lugar, a questão da crise económica não é percebida como de responsabilidade exclusiva da administração Macri, e sim compartilhada com Cristina Kirchner para uma grande fatia da população. Isso explica que a crise econômica, que começou no governo de Macri, não se traduza na inviabilidade de sua reeleição. Em  outra direção, a imagem da coalizão governista, Cambiemos, ainda conserva uma associação com a nova política. Segundo o cientista político argentino Luis Tonelli, num artigo publicado em El Estadista, o peronismo não-kirchnerista (Alternativa Federal) enfrenta o problema de que “a política das boas maneiras” tem sido hegemonizada pela coalizão governista (Cambiemos): a polarização é vivenciada não como ideológica e sim pelas formas de fazer política, sobretudo para os eleitores de Mauricio Macri,  que ponderam o que entendem como um estilo moderado do Presidente. A percepção de que as responsabilidades da crise econômica são compartilhadas entre o governo atual e o anterior, e o fato de o atual ainda ser considerado por muitos uma nova forma de fazer política, coloca a coalizão Cambiemos ainda no caminho da reeleição apesar da crise econômica.

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