Editorial Venezuela: sem opção militar

Publicado em: 26/02/2019 03:00 Atualizado em: 26/02/2019 08:13

A situação da Venezuela parece cada vez mais crítica. O ruim ficou pior. Fracassou a tentativa de fazer chegar a ajuda humanitária à população vizinha. Programada para sábado pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, a iniciativa foi classificada pelo ditador Nicolás Maduro de golpe para apeá-lo do poder.

Sem a participação da Cruz Vermelha ou da ONU, a ação teve forte viés político. Havia a intenção de confrontar o regime, cuja corrupção e incompetência condena o povo à fome e à morte por falta de medicamentos. Mas também tinha o objetivo de entregar cerca de 600 toneladas de ajuda, a maior parte doada pelo arqui-inimigo Estados Unidos.

Não deu certo. Na fronteira do Brasil, pelo menos três pessoas morreram e mais de uma dezena ficaram feridas. Na da Colômbia, dois caminhões que atravessaram a ponte Francisco de Paula Santander arderam em chamas. Caracas rompeu relações diplomáticas com Bogotá. A tensão permanece. Qual a solução?

A União Europeia divulgou nota na qual reitera a saída pacífica, política e democrática para a crise. Vai ao encontro da posição brasileira. O Palácio do Planalto anunciou que não apoia a opção militar. Tampouco permitirá que tropas estrangeiras ocupem território nacional ou por ele transitem — o que exigiria aval do Congresso Nacional.

Em discurso no Grupo de Lima, o vice-presidente, Hamilton Mourão, depois de criticar duramente a ditadura Maduro, apresentou possível caminho a ser seguido — pregou, como solução, eleições livres e fiscalizadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Maduro com seu grupo buscaria refúgio em algum país que aceitasse dar-lhes abrigo.

Mesmo o vice-presidente americano, Mike Pence, também presente ao encontro na capital peruana, não falou em intervenção militar, mas prometeu novas sanções “ainda mais fortes” ao que chamou de “rede de corrupção financeira” do regime de Maduro. Talvez sejam necessárias, mas é lamentável. A medida implicaria mais sofrimento para a já sofrida população.

A esperança é que a diplomacia encontre o caminho para bater ponto final na crise que, agravada, pode respingar no continente. Os olhos estão voltados para as Forças Armadas venezuelanas. Por ora, as deserções têm se dado nas baixas patentes. Há que encontrar fissuras no paredão formado pelos privilegiados generais. Como disse o general Mourão, “o diálogo terá de se dar com pessoas-chaves da elite militar”.

Seria natural que o Brasil — o maior e mais importante país da América do Sul — fosse o mediador do conflito. Mas, porque optou pelo abandono da neutralidade, está impossibilitado de atuar como negociador. É pena. O Itamaraty deixou para trás o prestígio que lhe permitia circular com desenvoltura nos diferentes países com diferentes ideologias. Era o algodão entre cristais. Deixou de ser.

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