Pernambuco precisa do Porto do Recife

Manoel Ferreira Júnior
Empresário e conselheiro da Federação Nacional dos Operadores Portuários

Publicado em: 25/01/2019 03:00 Atualizado em: 25/01/2019 08:43

É compreensível que, no imaginário da maioria da população, o Porto do Recife seja um equipamento dispensável, tendo em vista que Pernambuco possui o Complexo Industrial e Portuário de Suape que, teoricamente, poderia absorver as operações que são realizadas no ancoradouro da capital Pernambucana.

Contudo, chama à atenção o fato de que essa ideia errônea, baseada num total desconhecimento sobre o assunto, emerge, de tempos em tempos, da cabeça de tecnocratas que não se dão ao trabalho de fazer consultas básicas a fim de lastrear os seus projetos mirabolantes.

Para combater essa recorrente ideia esdrúxula que, caso prospere, pode causar gigantescos prejuízos ao nosso Estado, precisamos estar sempre alertando a cada novo governo que se instala sobre a importância econômica e social do Porto do Recife para os pernambucanos.

Para começar, não custa nada repetir enfaticamente: o Porto do Recife e o Porto de Suape não são concorrentes. Os dois equipamentos se integram de uma forma complementar. Recife opera como um porto comercial, com grande capacidade operacional em relação aos demais equipamentos do Nordeste e sua relevância tende a crescer a cada ano tendo em vista a perspectiva de expansão da navegação de cabotagem no País.

Suape, por sua vez, tem como vocação não só de abrigar um complexo industrial, mas também de atuar como entreposto distribuidor de mercadorias na região. Suas características estruturais não o habilitam a absorver as operações hoje realizadas no Recife. Em razão disso, em caso de inviabilização, os negócios e os empregos gerados pelas operações realizadas na capital pernambucana migrariam para portos de estados vizinhos.

Para se ter uma ideia dos prejuízos que isso acarretaria para os pernambucanos, basta dizer que, atualmente, o Porto do Recife gera cerca de 600 milhões de dólares por ano em negócios a partir da movimentação de 1,5 milhões de toneladas de mercadorias. Esses números poderiam ser pelo menos 25% maiores não fossem a dificuldades operacionais enfrenadas devido aos mais de 10 anos passados sem a realização de obras de dragagem.

Tem mais. Com cerca de 6 mil trabalhadores diretos e indiretos, o conjunto de atividades ligadas ao setor portuário do Recife é responsável pelo pagamento de cerca de R$ 90 milhões em salários e encargos trabalhistas. Em um estado que anualmente perde milhões em renúncia fiscal para atrair novos empreendimentos que gerem emprego e renda, é inconcebível que um empreendimento já consolidado como o Porto do Recife não só receba tão pouca atenção do poder público, mas também seja alvo de projetos urbanísticos que planejem a sua desativação.

Vale lembrar que, a partir da transferência das cargas mais adequadas ao Porto de Suape, oito berços de atracação e nove armazéns do Porto do Recife já foram desativados e destinados ao projeto Porto Novo, que inclui a implantação de empreendimentos culturais, turísticos e empresariais. Ainda assim, a área portuária remanescente, constitui-se numa infraestrutura importante de suporte as atividades comerciais, industriais e agropecuárias de Pernambuco e estados vizinhos, com destaque para os segmentos cervejeiro, vidreiro, açucareiro e de higiene e limpeza.

Atualmente com sete berços operacionais, dois a mais do que Suape, o Porto do Recife possui também uma retroárea para movimentação de cargas e armazenagem que inclui cilos para grãos, pátio de contêineres e a maior área alfandegada em porto público do Nordeste, além de uma moderna estação de passageiros para receber turistas que chegam em navios de cruzeiro.

Aliado a isso, o porto recifense tem uma localização estratégica no Nordeste e oferece facilidade de escoamento das mercadorias devido a infraestrutura logística existente no Estado e as vias que dão acesso às rodovias que ligam os polos norte, sul e oeste.

Diante dessa realidade, é incontestável que Pernambuco precisa de Porto do Recife, o qual não só deve ser preservado, mas também deve ser alvo de uma política portuária estadual que tenha em vista a realização de investimentos a fim de que possa ampliar a sua capacidade como agente de desenvolvimento econômico e social. Isso deve ocorrer com base em programas de revitalização e modernização de forma a implementar processos de planejamento que contemplem o desenvolvimento sustentável da atividade portuária e uma relação harmônica com a cidade assim como acontece nas dezenas de portos urbanos existentes no Brasil e no mundo.

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