A Gramática Portuguesa na Literatura Brasileira

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
raimundocarrero@gmail.com

Publicado em: 21/01/2019 03:00 Atualizado em: 21/01/2019 08:52

A questão está na mesa: a prosa de ficção brasileira pode ter erros gramaticais? E, na verdade, o que é um erro gramatical? O problema parece novo ou recente mas é antigo, muito antigo, começa com a Independência do Brasil, quando percebeu-se que a independência devia ser total, inclusive na língua.

Tempos depois, o escritor José de Alencar defendeu a ideia de que a nossa prosa de ficção literária devia se separar da influência portuguesa criando um universo próprio na história, na linguagem, nos personagens. A reação foi imediata e continuamos a repetir a literatura portuguesa, sobretudo com relação à gramática.

Os modernistas reivindicaram o direito de romper com a gramática, de forma que a língua popular seja reconhecida na obra literária. Mário de Andrade chamou a atenção para  riqueza dos nossos erros, numa frase que se tornou famosa. Os puristas resistiram e continuamos a obedecer à gramática clássica, que Antônio Houaiss chamou de “mandarina e bizantina”, em artigo que escreveu sobre Lima Barreto.

Aliás, Houaiss defendeu muito a obra de Lima, sobretudo neste capítulo da gramática. Escreveu assim: “ Lima Barreto poderá ser reputado como “incorreto”, do ponto de vista gramatical, e de “mau gosto”, do ponto de vista estilístico – afinal de contas o conceito de correção, na nossa gramática , mandarina e bizantina, pode apresentar tais e tantos planos de julgamento, que poucos, pouquíssimos escritores poderão enfrentar todas as sanções de todos os planos, e afinal de contas , ainda, o problema do “bom gosto” é infinitamente flutuante, no espaço, no tempo e no mesmo espaço e no mesmo tempo, não parecendo constituir uma questão modalmente estética”.

Esta é a questão principal. Reinvidica-se, portanto,  o direito o escrever conforme a fala das ruas e, em consequência, conforme a língua brasileira e não de acordo com a gramática tradicional que continua estranha e distante. Portuguesa mas não brasileira. Até porque a língua se reinventa a todo instante; na criança, no adolescente, no adulto. Esta é a liberdade que nos falta: a liberdade de usar a nossa fala.

Assim como Lima Barreto,  que era um escritor que se “empenhava em fazer uma obra atual e atuante, do seu tempo e do seu meio, literatura militante, como ele próprio dizia,” feito escreveu o já muito citado Antonio Houaiss, para nossa liberdade.

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