Editorial Violência sem fim

Publicado em: 16/01/2019 03:00 Atualizado em: 16/01/2019 08:54

A violência que tomou conta do Ceará, desde 2 de janeiro, mostra a necessidade, urgente, de o governo federal não protelar nem mais um dia a implantação de um plano nacional de segurança pública, em estreita colaboração com os estados, para que este mal maior que se alastra pelo país, de forma incontrolável, seja contido de uma vez por todas. A sociedade não suporta mais os discursos vazios e cheios de promessas, tanto em época de campanha eleitoral quanto em tempos ditos normais, para que seja encontrada, de uma vez por todas, solução para problema de tal gravidade, que pode ser considerado uma chaga nacional.

Todo início de ano a história se repete, com atos violentos chocando todos, como as execuções em série nos presídios do Amazonas em janeiro de 2017. No mês seguinte, a população do Espírito Santo assistiu, impotente e assombrada, à explosão de crimes nas ruas capixabas durante greve da polícia, quando pelo menos 75 pessoas foram assassinadas. Com cenas de guerrilha urbana, a onda de insegurança que tomou de assalto as principais cidades capixabas chocou o país, com os bandidos promovendo saques e outros atos de vandalismo, como arrastões, ataques ao comércio e ônibus incendiados. No ano seguinte, as penitenciárias de Alagoas foram palco de cenas de terror com as execuções sumárias de presos.

Agora, a audácia dos criminosos no Ceará também choca os brasileiros, cansados das falsas promessas dos detentores do poder a cada onda de explosão de violência pelo país. São reuniões e mais reuniões para que os especialistas em segurança pública, tanto em nível federal quanto estadual, cheguem a um denominador comum e tracem um plano exequível de combate à criminalidade. Mas, passado o calor do momento, a questão cai no esquecimento e nada de concreto é feito.

Os criminosos, na visão de muitos, vêm praticando verdadeiros atos de terrorismo quando tentam explodir pontes — num dos últimos ataques, os bandidos potiguares detonaram explosivos numa ponte da BR-116, a cerca de 70 quilômetros de Fortaleza —, derrubam antenas da rede de transmissão de energia elétrica e atacam prédios públicos, como a sede de um Juizado Especial da capital cearense. Nos 14 dias de crimes sequenciais, foram mais de 200 ações violentas em 44 municípios.

Não se pode negar que as autoridades estaduais estão engajadas no combate à onda de criminalidade, apesar de não ter reagido, prontamente, aos ataques com mais vigor. No fim de semana, a Assembleia Legislativa aprovou um pacote de ações para enfrentar a violência, sancionado pelo Executivo. Decisões foram adotadas, como a criação do Fundo de Segurança Pública e Defesa Social; regras de restrição ao uso do entorno de presídios para prevenir fugas; e autorização de convênios e parceria com a União e estados na cessão de policiais ao Ceará.

Medidas emergenciais, como as colocadas em prática pelo estado do Ceará, são bem-vindas, mas insuficientes para conter, em nível nacional, a violência que grassa por todas as regiões do Brasil. Se não houver um projeto de integração e inteligência compartilhada das polícias estaduais com os órgãos de segurança federais, nada de concreto e efetivo será alcançado.

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