Fraudes econômicas

Paulo Rubem Santiago
Professor da UFPE, mestrando em Educação

Publicado em: 08/01/2019 03:00 Atualizado em:

O presidente Jair Bolsonaro foi eleito sem participar de debates. Sequer foi submetido às tradicionais sabatinas que as emissoras de TV costumam fazer em seus programas de entrevista. Fosse dada a ele essa chance em cada uma delas e todos os demais candidatos de coligações com bancadas no Congresso teriam que exercer o mesmo direito. Isolado, ancorado nas redes sociais, Bolsonaro não disse o que faria com a economia, a educação, a saúde, a previdência, a ciência e tecnologia e para o desenvolvimento do país. No segundo turno sua propaganda limitou-se a sangrar a herança dos atos de corrupção ocorridos durante os governos do PT. Sua estratégia calou e acovardou as principais emissoras de TV, pois nenhuma se dispôs a debater, como concessões públicas que são, aqueles rumos esquecidos pelo candidato eleito. As consequências dessa omissão estão surgindo agora, sob a forma de uma infinidade de declarações velhas, vencidas, acerca do papel que o Estado brasileiro deverá ou não exercer nas escolhas de política econômica que pautarão a gestão de Bolsonaro-Paulo Guedes à frente da nação. Afirmações recentes do ministro da Economia são um primor das fraudes econômicas da dupla. Do alto de sua titulação pela Universidade de Chicago, ele afirma que quanto menos Estado na vida dos cidadãos e das empresas melhor para a nação, no que é seguido e aplaudido por um sem número de colunistas de plantão em vários jornais. Num país decente seria contestado não pelos partidos de esquerda, mas pelas principais emissoras de TV, em especial ouvindo-se economistas das mais diversas correntes de formação, posto que tal declaração não encontra respaldo algum na realidade de nenhuma nação, nem aqui nem nos Estados Unidos. E não nos faltam estudos, pesquisas, documentários e relatórios para provar que a fala de Guedes é uma fraude. Sem a pronta ação do Estado no país de Donald Trump, durante a gestão Obama, após a crise de 2008-2009, com mais de US$ 700 bilhões do tesouro sendo transferidos aos bancos e seguradoras, não haveria oxigênio para a saída do caos. O mesmo se viu nos principais países europeus arrastados por ele. Aqui, não fossem as medidas fiscais e financeiras do período Lula II e Dilma I o mesmo não ocorreria, embora no Brasil as empresas tenham preferido entesourar tais benefícios que aplicá-los integralmente na retomada da produção e dos empregos. Mais que isso, quem ler “O Estado empreendedor”, de Mariana Mazzucato, economista italiana, Professora da Universidade de Sussex, no Reino Unido, verá como nos Estados Unidos a ação do Estado foi essencial para a explosão das empresas de tecnologia, notadamente a Apple, visto que o capital privado não joga dinheiro fora em pesquisas e áreas de risco sem alta probabilidade de retorno. Isso, lá na terra de Trump, quem fez e faz é o Estado. Guedes sabe disso, como sabe quanto custa ao Estado brasileiro, desde os anos de FHC, desonerar do IR a remessa de lucros das empresas multinacionais e o recebimento de juros sobre o capital próprio, quando o Estado foi máximo para o capital. E por que não anuncia o fim disso? Porque seu cinismo e oportunismo são maiores que uma possível seriedade acadêmica de sua parte. Por isso é essencial para o país, para os interesses e direitos da maioria de sua população, inclusive o empresariado que não vive de rendas obtidas fora da produção, que sejam desmascarados todos os discursos e seus criadores que insistem em propalar fraudes econômicas visando forjar um ingênuo e alienado senso comum que desmobiliza as pessoas e deixa o governo fazer o que bem entende, em especial contra os mais necessitados, como apontam os primeiros anúncios da dupla para o país. 

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