Editorial Mãos à obra, Bolsonaro

Publicado em: 01/01/2019 09:00 Atualizado em:

O governo de Jair Bolsonaro, que começa neste 1º de janeiro, está cercado de expectativas. Eleito com mais de 57 milhões de votos, ele representa uma mudança radical na Presidência da República desde a redemocratização do país, ao defender, de forma clara, o pensamento de extrema-direita. Dos mais pobres aos mais ricos, o desejo é de que o discurso da campanha, de um novo Brasil, represente mais crescimento econômico e, por tabela, mais emprego e melhor distribuição de renda.

Boa parte do otimismo em relação a Bolsonaro se sustenta em projetos reformistas e liberais. Isso significará enfrentar corporações e cortar privilégios. Mas não será tarefa fácil. É preciso que o novo presidente esteja ciente da gravidade do momento. O governo não pode ser máquinas de conflitos, mas, sim, uma instituição capaz de cooptar apoios, de acumular forças e de formar consensos. Isso exige inteligência emocional e visão de futuro, o que passa longe de posições ideológicas e de atos impulsivos.

Bolsonaro, quando foi diplomado pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE), disse que governará para todos, sem distinção. É bom que seja assim. As demandas a serem atendidas são enormes. O Brasil perdeu o rumo do crescimento econômico. Quase um quarto da população ou está desempregada ou não ganha o suficiente para bancar as despesas mais básicas. A pobreza, que vinha em queda, voltou a dar as caras. Essa realidade cruel alimenta a violência, cujo combate o novo presidente usou como mote principal de sua campanha ao Palácio do Planalto.

A história mostra que o comando do Brasil não é para amadores. Desde que a população retornou às urnas, em 1989, para escolher presidentes da República, dois eleitos não conseguiram concluir seus mandatos. Não por acaso, há uma insegurança dos agentes econômicos quanto aos rumos do país. Dar previsibilidade, portanto, passa pelo respeito aos contratos e à Constituição. É fundamental. A democracia precisa ser reforçada, não questionada.

Tradicionalmente, os presidentes empossados costumam ter pelo menos seis meses de lua de mel com a população, os investidores e os empresários. Mas, dada à realidade atual, de um Brasil mergulhado em uma crise tripla — ética, econômica e política —, Bolsonaro dependerá, como nunca, de sucesso rápido. Terá que elevar a confiança e o otimismo logo na largada. Não poderá desperdiçar as oportunidades, o que passará por uma boa relação com o Congresso.

Enfim, a esperança é grande. A vontade de fazer é clara. Mas de discursos recheados de promessas o povo está cheio. É preciso agir e entregar. Que o presidente que toma posse nesta terça-feira histórica se dispa de vez da fantasia de candidato e assuma, com grandeza, o pragmatismo inerente a um chefe de Estado. É isso que a população quer e espera. É isso que o Brasil necessita. Mãos à obra, Bolsonaro.

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