A culpa é dos outros

Plutarco Almeida
Sacerdote jesuíta e jornalista

Publicado em: 31/12/2018 03:00 Atualizado em: 02/01/2019 10:15

Na liturgia da missa, logo no início, o padre convida a assembleia a rezar o “ato penitencial” confessando humilde e publicamente a condição de pecado em que todos, sem exceção alguma, nos encontramos.  Sim, é esta a condição humana, a fragilidade. Somos limitados, vulneráveis e sujeitos ao erro a todo instante. E não há dinheiro no mundo que possa mudar esta situação fundamental. Super-heróis ou seres infalíveis só existem na ficção. Por mais que prosperem as tecnologias e a humanidade avance na conquista de novos recursos para resolver os seus problemas diminuindo as dificuldades e facilitando a sua existência, esta condição nunca deixará de existir. É como diz o Salmo 50: “Diante de mim tenho sempre o meu pecado, pois em pecado minha mãe me concebeu”.

Mas, se confessamos na Igreja, na vida lá fora temos uma enorme dificuldade em assumir nossas faltas. Costumamos, isto sim, jogar nas costas de outras pessoas as responsabilidade que são, muitas vezes, exclusivamente nossas. Em casa, no trabalho, na escola, no trânsito, na rua e sobretudo na vida política ninguém tem culpa de nada. É como diz o ditado “o errado não tem dono!” Então o erro e suas consequências ficam por aí vagando sem rumo à procura do seu proprietário. Todo mundo se esquiva de dizer: desculpe, o erro foi meu! Parece que uma confissão como esta diminui a pessoa, humilha e marginaliza para sempre o pecador. Então a gente prefere esconder nossas culpas no armário sujo da consciência e vestir a fantasia da inocência para ficar bem ou para “se dar bem” com todo mundo. Os pais com os filhos, o empregado com o patrão, o político com os seus eleitores.

Porém, a confissão de culpa não diminui nem humilha ninguém. Ao reconhecer os meus erros, pelo contrário, se eu era pequeno me torno grande, porque somente a grandeza da alma e a lucidez do espírito me tornam capaz de saber quem de fato eu sou. Ponto final: eu não sou o todo poderoso que eu penso que sou. Tenho virtudes e defeitos, acerto aqui, erro acolá! E daí? Vida que segue! Então, diante dos outros posso me despir da fantasia da falsa inocência e assim mostrar-me mais verdadeiro, mais eu! Ao fugir das minhas responsabilidades tirando uma de bonzinho, talvez eu pense que estou enganando todo mundo, mas o maior enganado sou eu mesmo! Ninguém é capaz de conviver com as suas profundas falsidades a vida toda pois isso dói e dói muito.

Que bom seria se cada estudante de fato estudasse, se cada motorista respeitasse a sinalização, se cada morador da cidade colaborasse com a limpeza, se cada qual respeitasse o direito de cada qual. Melhor ainda se depois do erro cometido cada pessoa assumisse com toda liberdade a autoria. Afinal, lembrando a velha canção, “perdão foi feito pra gente pedir”.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.