Feliz Natal Cláudio Gomes

Cláudio Lacerda
Cirurgião. Professor da UPE e da Uninassau.

Publicado em: 22/12/2018 03:00 Atualizado em: 22/12/2018 22:07

Diferentemente do outro réu (e de todos os que eu vi em fotos ou em filmes), Cláudio Amaro Gomes foi obrigado a vestir, durante os três dias de julgamento, uma camisa caqui, cor de laranja, característica dos presidiários. A plateia estava dividida: do lado da acusação, muita gente, alguns médicos. Do outro, da defesa, quatro familiares dele e eu. Nenhum outro colega ou amigo. Cláudio, visivelmente debilitado pelos quatro anos e meio de prisão, permaneceu cabisbaixo todo o tempo. A certa altura, começou a passar mal, com dor no peito e palidez. Preocupado, Bráulio Lacerda, que liderava a equipe de defesa aproximou-se da Juíza e solicitou permissão para que eu o atendesse, ao tempo em que sinalizou para que eu fosse até eles. A Juíza olhou para mim e disse que não, que o réu teria que ser atendido pelos profissionais de saúde da casa, permitindo apenas que eu os acompanhasse quando chegassem.  Olhei para o semblante de Cláudio e achei que o problema podia ser sério.

Ironia do destino. O médico que sempre se diferenciou pela solicitude e que tantas vidas salvou, excelente cirurgião e dedicado professor universitário, agora não podia sequer ser socorrido pelo colega mais próximo, da sua confiança. Cheguei perto da Magistrada e disse quatro palavras, em voz baixa: “pode ser uma emergência”. Ela então mandou que dois oficiais de justiça me levassem até a pequena sala para onde Cláudio estava sendo levado.

Tive que colher a anamnese, examiná-lo, aconselhá-lo e medicá-lo na presença de homens armados e dois oficiais de Justiça. Sem direito à privacidade hipocrática, imprescindível no relacionamento médico-paciente. Felizmente, o réu foi medicado e se recuperou.

Cláudio Amaro Gomes foi condenado pela imprensa e pela opinião pública aos cinco minutos do primeiro tempo. O resto foi consequência. Por isso, de nada adiantou o seu filho declarar publicamente, com firmeza e sem contradições que praticou o crime com mais dois bandidos, sem que o pai sequer tomasse conhecimento. De nada adiantou a brilhante defesa de Bruno Lacerda desafiar – sem resposta, a acusação a apresentar uma única prova, testemunhal ou documental, capaz de envolvê-lo no covarde e hediondo assassinato.

Só me resta pedir a Deus para que Cláudio Gomes, no cárcere, pelo menos neste Natal  encontre paz interior.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.