Sobre o caso João de Deus

Moacir Veloso
Advogado

Publicado em: 21/12/2018 03:00 Atualizado em: 21/12/2018 08:27

Durante 44 anos, João Teixeira de Farias, médium brasileiro conhecido internacionalmente, vinha exercendo seus supostos poderes paranormais em Goiás na cidade de Abadiânia. Seu templo espiritual batizado de Casa Dom Inácio de Loyola recebia cerca de 3.000 pessoas por semana. As mulheres iam lá, em busca de um consolo para seus problemas espirituais e psicológicos, tais como depressão, desilusões amorosas etc... Uma boa parte delas nunca imaginou que, em consultas individuais, seriam recebidas e violentadas por um homem seminu, e induzidas a praticar atos obscenos de toda espécie. João de Deus prometia-lhes a cura para todos os males, desde que lhe prestassem favores sexuais variados: sexo oral, vaginal, masturbação e tudo mais que se sabe. Como vaticina a metáfora popular Um dia a casa cai, a Casa Dom Inácio de Loyola desabou, para desgraça de João.  As denúncias de mulheres abusadas sexualmente por ele, se multiplicam e já chegam a mais de 500. A demanda é tão grande que o Ministério Público e a Polícia Civil de Goiás, criaram duas forças-tarefas para dar conta do fluxo de denúncias e dos trabalhos de investigação. No Ministério Público de São Paulo, foi criado um grupo especial que vem sendo procurado por dezenas de vítimas de João de Deus. Nem a sua própria filha, Dalva Teixeira, foi poupada por João. Ela o acusa de abuso sexual e propôs uma ação indenizatória por danos morais, no valor de R$ 50 milhões. Como se vê, João é o próprio tinhoso em pessoa. Acossado, ele entregou-se à polícia. Está preso. Aos 76 anos, sua expectativa de vida na cadeia equivale à de prisão perpétua, salvo a hipótese de que decorridos alguns anos, quando o caso esfriar, o Poder Judiciário lhe defira o direito à prisão domiciliar, com monitoramento através de tornozeleira eletrônica. No Brasil, país da leniência criminal, nada é impossível, quando se tem acesso a bons advogados. Os problemas de João estão apenas começando. A Paris Filmes suspendeu a distribuição do longa João de Deus - O silêncio é uma prece – e a Editora Companhia das Letras suspendeu a venda da biografia: João de Deus – Um médium no coração do Brasil. O Ministério Público vai pedir a interdição do Centro Dom Inácio Loyola, em Abidiânia, um lugarejo com 19.000 habitantes e 1.500 quartos de pousadas. O município vai sofrer um grande revés econômico. Afinal, quem é que, depois do desmanche do mito João de Deus, vai procurar os seus serviços espirituais. Doravante, só mesmo a Polícia, o Ministério Público e a Justiça Criminal estão interessados em mantê-lo na prisão e que seja condenado pelos crimes que cometeu. João, como todo investigado politicamente correto, nega peremptoriamente todas as acusações. A experiência demonstra que é esta a única alternativa que lhe resta: morrer negando. Que Deus tenha piedade de sua alma, João!

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.