Editorial A preocupante volta da sífilis

Publicado em: 18/12/2018 03:00 Atualizado em: 18/12/2018 08:40

O Brasil comemorou a queda de 16% no número de detecção de Aids nos últimos seis meses, segundo Boletim Epidemiológico divulgado no fim de novembro último pelo Ministério da Saúde. O dado positivo resultou da ampliação do acesso à testagem e da redução do tempo entre o diagnósstico e o início do tratamento. Em contrapartida, o país enfrenta o recrudescimento da sífilis, infecção sexualmente transmissível (IST), que não faz distinção de gênero, idade ou classe social. Dela não escapam bebês, jovens adultos, gestantes e idosos.

A situação é alarmante. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, por dia, 1 milhão de pessoas no mundo são vítimas de infecções sexualmente transmissíveis, entre clamídia, gonorreia, sífilis e triconomas. Ou seja, a cada ano, 357 milhões de pessoas seriam vítimas de uma dessas doenças. Anualmente, só a sífilis afeta 1 milhão de gestantes e provoca pelo menos 300 mil mortes fetais e neonatais.

Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de detecção da sífilis adquirida aumentou de 44,1 para 58,1 em cada grupo de 100 mil habitantes, entre 2016 e 2017. Nesse mesmo período, a infecção em gestantes passou de 10,8 para 17,2 casos em mil nascidos vivos; e a sífilis congênita de 21.183 casos para 24.660. Em 2016, a sífilis matou 195 brasileiros e, no ano passado, 206.

A infecção em gestantes é uma das que mais preocupam os especialistas. Transmitida pela mãe, ela pode causar malformação do feto, aborto ou a morte do bebê. Há ainda o risco de comprometimento do sistema neurológico da criança. Esse risco reforça a necessidade de a gestante fazer os testes durante o pré-natal. Identificada a presença da bactéria, o tratamento deve ser feito até fim da gestação.

Segundo a infectologista e presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Valéria Paes, muita gente acha que doenças como a sífilis não existem mais e não sabem como prevenir. Não é bem assim. As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e as ISTs estão relacionadas à redução do uso de preservativos. Ela recomenda, sobretudo para quem tem vida sexual ativa, exames periódicos. Quanto mais cedo a infecção for detectada e o tratamento iniciado, é possível interromper a transmissão da doença, tratada com penicilina.

Diante de tamanho alerta, não há como negligenciar a procura regular por especialista e a realização de exames preventivos. A recomendação não vale apenas para as mulheres. Os homens também têm que procurar atendimento médico e se submeter aos testes necessários para a detecção precoce de quaisquer infecções. O tratamento destinado às mulheres deve, igualmente, ser obedecido pelos homens. As infecções sexuais são contraídas por ambos. Assim, nenhum parceiro pode ser irresponsável com a própria saúde nem com a da outra pessoa.

O poder público, por sua vez, deve promover campanhas e alertas permanentes para conter a epidemia. O bombardeio de informações sobre a Aids e os danos causados pela doença foi fundamental para reduzir o avanço da doença. A mesma estratégia vale neste momento em que velhas epidemias fragilizam a saúde dos brasileiros.

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