Editorial A avaliação do presidente que sai

Publicado em: 15/12/2018 03:00 Atualizado em: 15/12/2018 10:32

O presidente Michel Temer está em contagem regressiva para deixar o poder. É sempre um momento oportuno para se avaliar o que o governante fez, deixou de fazer ou fez errado. A avaliação mais fria e objetiva só pode vir com o tempo, não no calor da hora - mas esta tem o valor da instantaneidade, sobretudo quando feita pelo próprio ocupante do cargo, como é o caso da entrevista que publicamos hoje com o presidente.

Ao ser indagado sobre sua expectativa de como será tratado pela história, Temer diz acreditar que será “de maneira positiva”. Mas não desconsidera seus índices recordes de impopularidade a poucos dias de deixar o mandato. “(...) evidentemente no grande público ainda não há popularidade”, diz ele, ressalvando que “o reconhecimento está começando agora e vai prosseguir”. Um dos fatores que explicaria a baixa popularidade seria, nas palavras dele, o de que “alguns setores tentaram me derrubar durante um ano e pouco e não conseguiram”.

O fator é levantado por ele também quando indagado sobre a “grande frustração” que tem em relação ao período que ficou no poder. “Foram os ataques de natureza moral, porque os ataques políticos não me preocupam minimamente”, responde, aproveitando para destacar que, apesar disso, o governo não ficou inviabilizado: “Vocês se lembram do tal Abril Vermelho, que tinha todo ano? Sabe porque não houve abril vermelho? Porque distribuímos mais de 250 mil títulos de regularização fundiária que não eram entregues, porque havia um interesse ideológico em manter o estoque. Nós tivemos greves, movimentos de rua que paralisaram o país, fora a dos caminhoneiros? Não. Porque agimos corretamente aqui no governo”.

Para o sucesso de qualquer presidente, ele destaca a necessidade de um bom relacionamento com o Congresso. “Ninguém consegue milagre sem o Congresso”, afirma, apontando que o seu sucessor, Jair Bolsonaro, apesar do discurso a parentemente refratário a negociações com partidos e parlamentares, estaria mudando de posição. “Ele já chamou bancadas partidárias para conversar. E o depoimento de todos que vêm aqui é de que ele fala que precisa do Congresso”.

É natural que o governante, ao fazer seu próprio balanço, seja condescendente com aquilo que fez - e relegue a segundo plano aquilo que poderia merecer críticas. Até porque, para falar mal já existem os adversários. Ao se posicionar, no entanto, como o faz agora Michel Temer, o governante deixa o seu testemunho. Só a história poderá dizer o quanto há de condescendência e de avaliação objetiva no testemunho daquele que avalia si próprio, e qual o grau de acertos e erros na opinião de cada um de nós sobre aqueles que nos governaram.

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