22 anos em Equipe

Márcia Ma. G. Alcoforado de Moraes
Professora Associado - Departamento de Economia/ PIMES/ PPGEC. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

Publicado em: 13/12/2018 03:00 Atualizado em: 13/12/2018 08:16

No início do mês tive o imenso prazer de participar do Ato Acadêmico de conclusão do Ensino Médio da turma de 2018 do Colégio Equipe. Confesso que fui me dando conta do amontoado de significados do momento em que vivia, aos poucos, ali sentada entre outros felizes pais de concluintes. Ver um de nossos filhos concluir o ensino médio, por si só, já é um momento de grandes emoções. No nosso caso várias outras se sobrepuseram. Junto ao nosso caçula, concluíamos também uma longa parceria iniciada em 1996 com o colégio Equipe, generosamente registrada, durante o Ato, pelo diretor Armando Vasconcelos, que fez uma tocante associação da nossa família com a sua escola, escola essa que para ele “também é família”. Por vivermos tempos difíceis em que, numa pretensa defesa da liberdade de pensamento dos nossos jovens e de uma ideia monotônica do que seja família, tenta-se minar essa relação com desconfiança e vigilância, resolvi trazer a público o nosso exemplo de bem-sucedida colaboração. Começamos, o Equipe e nossa família, a misturar as nossas histórias em 1996, quando minha primeira filha , alfabetizou-se precocemente e houve a necessidade de transferi-la da pré-escola no meio do ano. Interessante como ao iniciarmos o processo de educação formal de nossos filhos, pensamos tratar-se de algo estruturado, linear e de mão única. Mal sabíamos a grandiosidade e a complexidade da jornada que apenas começava. Ingênuos e entusiasmados fomos acolhidos pela comunidade Equipe e nos vimos envolvidos numa malha de múltiplas aprendizagens. Ao lado das crianças, que logo passaram a ser duas, vivenciamos diversas atividades culturais, corais infantis, feiras literárias, olimpíadas e inesquecíveis festivais de dança. Eleições simuladas e debates com candidatos ocorriam em períodos eleitorais. O meio ambiente era preocupação desde a educação infantil e quantas vezes não tivemos as nossas “orelhas puxadas” pelos pequenos por atitudes nada sustentáveis. Circundada pela comunidade da Mangueira, uma das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) do Recife, a escola não tardou a nos dar uma aula de responsabilidade social, através do projeto Mangueira da Torre, idealizado pela saudosa educadora Florance Mont’Alverne. Optando pelo acolhimento, a iniciativa tornou possível, mais tarde, a incrível experiência de ver nossos filhos mediadores de atividades esportivas e pedagógicas para crianças e adolescentes menos favorecidos. Continuamente convidados a estar na escola, para além das celebrações, nos sentíamos parte da Equipe, seja através da pujante Associação de Pais, ou participando das feiras de ciências e de turmas de esportes e danças exclusivas para nós. À medida que nossos filhos cresciam e não nos queriam mais muito por lá, passávamos menos tempo no colégio, mas a escola continuava vindo até nós. Eles a traziam para casa. Meninas e meninos que vimos crescer estavam sempre por perto e continuávamos sendo seus “tios”. Filosofia, Sociologia e Geografia política, passaram a embasar as argumentações de temas cotidianos. Não sendo nossa área e sem tê-las estudado no Ensino Médio, acabávamos invariavelmente aprendendo. Com opiniões e preferências político-partidárias diversas e um senso crítico aguçado, meus três filhos conseguiam identificar diferenças de convicções entre seus professores. Concordando ou não com eles, nunca se sentiram coagidos ou deixaram de demonstrar-lhes respeito e carinho. Na conclusão, a turma escolheu para si o nome do funcionário Josafá Pereira, encarregado da portaria. Os jovens oradores ressaltaram o privilégio de ali estar. Mostraram anseio em influir na construção de um país inclusivo e diverso. Na sua fala final, o prof. Armando ressaltou que, para a sua escola, tão importante quanto o ensino do conhecimento, está o estabelecimento e a prática de valores sobre o qual ela se constitui e evolui. Compartilhou a sensação de não se reconhecer mais o mesmo, em vários aspectos e posturas de sua trajetória como educador. Na despedida, nós, pais decanos do Equipe, também não nos sentimos mais os mesmos. Somos mais um dos frutos deste solidário laço família-escola-família, baseado em amor, confiança mútua e convergência de valores. Envolvidos neste processo de educação amplo, ao final de mais uma etapa dessa instigante jornada como pais, talvez sejamos nós os que mais lições tiveram. Penso que aprendê-las, pavimentando caminhos e abrindo espaços para essa maravilhosa nova geração, é a mais nobre das missões que ainda nos cabe.

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