Três dilemas e uma saída

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicado em: 13/12/2018 03:00 Atualizado em: 13/12/2018 08:31

Vinte e quatro anos. Sim, desde 1994 o Brasil vive tipos matizados de social democracia. Uma social democracia de mercado com Fernando Henrique. Uma social democracia sindicalizada com Lula. Uma social democracia estatizada com Dilma Rousseff.

PT e PSDB foram fundados nos anos 80. Na verdade, nasceram, como primos políticos, de matriz social democrata. Mas, à medida em que foi-se aprofundando a disputa eleitoral em São Paulo, petistas e tucanos se afastaram. Antes companheiros fraternos contra a ditadura, Lula e Fernando Henrique tornaram-se irreconciliáveis adversários.

Agora, em 2018, Jair Bolsonaro inaugura a era liberal. Pela primeira vez na história política do país, um governo assume e se assume liberal. Num contexto caracterizado por três dilemas: no governo, o dilema é entre civilismo e militarismo. Na política, o dilema é entre partidos formais e bancadas transversais. Na sociedade, o dilema é entre um sistema liberal e um povo iliberal.

O dilema no governo é entre uma vocação civilista e uma tendência militarista. Governo é instituição civil. O militar é parte da instituição civil. Na gestão Bolsonaro, a instituição civil do governo recebe forte tintura militar. Só no Palácio do Planalto, além do presidente da República e do vice, há três ministros militares. Nada contra os militares. Mas, atenção quanto a uma visão militarista. São lógicas diferentes. Estilos diferentes. E fins diversos.    

O dilema na política é entre partidos formalmente estabelecidos no Congresso e bancadas transversais alimentadas por interesses corporativos. O presidente da República disse que iria enfrentar a política clientelista do é dando que se recebe. E está enfrentando. Os ministros da Educação e da Agricultura foram indicados por forças transversais. Só que a articulação política do governo precisa lubrificar os canais de comunicação com os partidos. Pois estes é que orientam a negociação e aprovação de projetos de lei encaminhados pelo Poder Executivo à consideração do Legislativo.

O dilema na sociedade é entre um sistema liberal de governo e um povo iliberal. O governo se prepara para executar uma política econômica baseada no liberalismo econômico. Menos intervenção estatal e mais regulação. Menos empresas estatais e mais investimento privado. Menos Estado e mais mercado. Acontece que o povo brasileiro é afeito a comportamentos fortes. Fruto de mentalidade formada na emoção. Mentalidade mais ligada a voluntarismos napoleônicos. E menos relacionada a formulações mercadológicas.

De qualquer modo, é jogo jogado. As cartas estão na mesa de partida democrática brasileiramente situada. Legitimada no voto. Instrumentalizando politicamente o governo para trabalhar.      

Pois bem. Que o governo trabalhe. Superando os dilemas que o envolvem. Porque, no final de contas, o governo só conta com uma saída: fazer a economia funcionar. Se o crescimento acontecer, o emprego vier e a confiança aumentar, o governo consegue entregar a encomenda feita pelo eleitor. Aí, os brasileiros vão reconhecer no liberalismo uma destinação tropical.

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