Que a justiça prevaleça

Wolfgang W. Schmidt Aguiar
Médico

Publicado em: 08/12/2018 03:00 Atualizado em: 09/12/2018 20:44

Nelson Rodrigues dizia que a morte de um amigo é uma catástrofe na memória. E quando essa morte acontece de maneira torpe, motivada pelo ódio e pela inveja, a dor pela perda é ainda mais forte e devastadora. Conheci o médico Artur Eugênio, nos primeiros anos de sua chegada ao Recife. Paraibano de Campina Grande e PHD em cirurgia cardíaca pela USP, era umas das pessoas mais inteligentes com quem tive o prazer de conviver, além disso, tinha uma sensibilidade ímpar. Artur era um grande profissional, sobretudo humano, como um médico deve ser, e tornou-se um grande amigo.

No Recife, vindo de São Paulo, Artur conseguiu, rapidamente, seu espaço profissional, conquistando o mercado da medicina graças ao seu conhecimento e dedicação no que fazia. E iria chegar ainda muito mais longe, se não fosse a mão perversa do homem, cruel e invejoso, que ordenou que sua vida fosse ceifada.

Artur e o médico Claudio Amaro - que começa a ser julgado como mandante do assassinato - ambos cirurgiões torácicos, chegaram a ter sociedade em um hospital privado do Recife. A parceria entre os dois foi, no entanto, rompida pelo próprio Artur, que descobriu irregularidades, desvios éticos e imperícias profissionais de Cláudio Amaro. Mesmo assim, os dois continuaram trabalhando, no mesmo ambiente, no Hospital das Clínicas, onde Amaro, que chefiava o setor, passou a perseguir o ex-sócio, que era concursado da unidade. Uma semana após Artur passar a integrar a câmara técnica de cirurgia torácica do Conselho Regional de Medicina, causando ainda mais inveja a Claudio Amaro, veio o caso que chocou toda a área de saúde no nosso Estado.

Segundo palavras do próprio delegado que investigou o caso, “a vítima era um arquivo ambulante das coisas erradas que o Cláudio Amaro tinha feito no decorrer da vida profissional”. De forma cruel, Amaro ordenou que seu próprio filho e jagunços vigiassem a saída de Artur do Hospital de Câncer, onde operava, o perseguissem, o sequestrassem na porta de casa e o executassem com quatro tiros à queima-roupa.

Nesse momento, a esperança de todos os amigos e familiares de Artur é que a justiça possa ser finalmente feita. A decisão do júri é soberana, mas todos não temos dúvidas que, diante das inúmeras provas da barbárie cometida contra Artur, os jurados irão seguir o que os investigadores, e o próprio judiciário, concluíram. Claudio está preso há mais de quatro anos; a polícia civil já encerrou as investigações do caso sendo taxativa quanto à autoria do crime; o Ministério Público já acolheu a denúncia contra ele; e diversos habeas corpus solicitando a sua liberdade, ou prisão domiciliar, foram negados por todas as instâncias da Justiça, sendo a última decisão, no final de novembro deste ano, do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.

Amaro, que já teve o registro médico cassado pelo Cremepe, tirou a vida de um jovem que tinha um caminho brilhante a trilhar e uma família para cuidar. A medicina deveria ser o ofício de quem escolhe salvar vidas, de quem deseja dar o máximo de si pela saúde do outro. Um médico não pode ser um assassino. A sociedade não pode conviver com um monstro.

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