O julgamento de Cláudio Gomes

Cláudio Lacerda
Cirurgião. Professor da UPE e da UNINASSAU

Publicado em: 06/12/2018 03:00 Atualizado em: 06/12/2018 09:37

No mês de outubro passado, recebi intimação para depor, na condição de testemunha de defesa, no julgamento do cirurgião torácico e professor universitário Cláudio Amaro Gomes. Depois de adiado, o evento terá lugar no Tribunal do Júri de Jaboatão dos Guararapes a partir da próxima segunda-feira, dia dez de dezembro. Ele é acusado de ser autor intelectual do assassinato do seu ex-colega de equipe Artur Eugênio de Azevedo, ocorrido em 2014.

Fui convocado pela defesa por ter escrito, nesta coluna do DP, dois artigos nos quais coloquei as minhas convicções de cidadão inconformado, formadas depois de conhecer os autos do processo e de conversar com advogados, familiares e com o próprio indiciado, meu amigo, em três longas visitas no Cotel.

Julgado apenas pela opinião pública e pela mídia, Cláudio está em prisão “cautelar”, ou “provisória”, ou “preventiva” - sei lá, há mais de quatro anos! Isso mesmo. Há mais de quatro anos! Com saúde precária, humilhado e abandonado por amigos. Cumpre pena antes do julgamento na Justiça. Com base em mera presunção de culpa.

Como se isso não bastasse, foi cassado pelo Cremepe. Por colegas. Que misturaram possíveis infrações éticas no exercício da medicina, com uma suposta participação num crime a ele imputado pela polícia (mas ainda não julgado pela justiça, volto a registrar), e proferiram uma sentença condenatória e a mais injusta e bizarra dosimetria da pena na história desse Conselho. Conselho que tive a honra e o orgulho de integrar por quinze anos.

Não acredito na culpa de Cláudio Gomes pelos seguintes fatos e argumentos: i) os verdadeiros criminosos asseveraram reiteradas vezes que ele não teve qualquer participação no covarde assassinato; ii) um dos assassinos, seu filho, confessou ter premeditado o crime quando soube, por acaso, que a vítima era um desafeto do  pai,  o qual se viu numa “saia justa”, sem querer incriminar o próprio filho, até o dia em que este admitiu publicamente ter participado do homicídio; iii) quem conheceu Cláudio Gomes, sua história de vida como médico, professor, pai de família e colega, sabe que ele não seria capaz de participar de crime tão hediondo; iv) a propósito, algum pai, na face da Terra, pretendendo eliminar um desafeto, iria recorrer ao próprio filho? Além de monstro do mal, não teria que ser um desnaturado? Alguém desprovido de qualquer sentimento de amor de pai? Cabe isso na cabeça de alguém? Enfim, o mais importante: v) não há, nos autos, uma única prova sequer, testemunhal ou documental, capaz de evidenciar o envolvimento de Cláudio Amaro Gomes no bárbaro assassinato.

Que Deus ilumine os jurados na próxima semana, para que sejam verdadeiramente imparciais, não aceitem pressão e, consequentemente, não estendam os efeitos de uma terrível tragédia, produzindo outra vítima. Outra vítima que já sofreu além do limite do suportável para um ser humano. Sem merecer.

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