Editorial Uma pausa na guerra comercial

Publicado em: 04/12/2018 03:00 Atualizado em: 05/12/2018 10:17

A trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China, decidida durante a reunião do G-20, ocorrida em Buenos Aires, foi um alívio para o mundo. O acirramento do conflito poderia levar à desaceleração econômica em escala global. O Brasil não seria poupado. As duas nações são a maiores parceiras comerciais do país, seguidas da Argentina, o terceiro maior mercado para os produtos brasileiros.

Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto Castro, a China é a maior compradora de commodities (28% da produção brasileira); os Estados Unidos, adquirem manufaturados e commodities (12%); e a Argentina, só manufaturados (8%, antes da crise, que provocou uma queda para 6,5%). Ou seja, quase 48% da produção brasileira para exportação estão distribuídos entre esses três países.

No último trimestre, chegou a 40% mês ao mês a queda nas vendas de mercadorias para os argentimps Neste ano, o país vizinho amargou perda de 17 milhões de toneladas de soja. Tamanha frustração de safra, aliada à crise econômica do país, impactou na importação dos produtos brasileiros. Ainda assim, é o maior mercado do continente para os produtos nacionais.

As condições impostas pelos Estados Unidos e, temporariamente, aceitas pela China, podem afetar os interesses brasileiros. A exigência do presidente Donald Trump de que os chineses comprem mais produtos agrícolas norte-americanos pode baixar cotação e quantidade de commodities brasilerias — principalmente soja — direcionadas ao líder do mercado asiático. Mas não só isso: o rebanho suíno da China, afetado por uma peste, deverá ser quase todo sacrificado, o que implica menos necessidade de importar farelo de soja produzido no Brasil.

Em meio a tamanho imbróglio, neutralidade é a melhor postura que o governo brasileiro pode adotar, recomendam os especialistas. O Brasil é ator coadjuvante nesse cenário. Um desequilíbrio nas relações com qualquer um dos parceiros poderá compremeter ainda mais a economia nacional. O crescimento da economia deverá encerrar o ano em 1,4%. Para 2019, a projeção é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3%. Qualquer turbulência poderá desviar a nau brasileira desse rumo.

Vários fatores — entre eles, como carga tributária, logística e juros — retiram competitividade dos produtos nacionais, o que impede a busca por novos mercados. Tais amarras têm de ser revistas pelo futuro governo, que tomará posse em 1º de janeiro. Há consciência de que a solução não virá da noite para o dia, mas é fundamental que seja construída. O Brasil dispõe de elementos suficientes para sair do condição de emergente para país desenvolvido, desde que o custo de produção permita a conquista de novos mercados.

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